Umas das conferências mais sérias do Encontro internacional sobre Óscar Ribas foi a do Prof. António Costa. Ele é hoje mais conhecido em Angola pelo seu trabalho ensaístico, docente e jornalístico no âmbito da linguística. Mas eu conheço-lhe, felizmente, essa veia crítica desde que, no início dos anos 90, trocámos em Braga algumas impressões sobre literatura angolana e, em particular, sobre Castro Soromenho.
Propõe António Costa na sua conferência "três segmentos historiográficos" englobantes do percurso diacrónico da nossa literatura:
1 - desde o início da formação de uma literatura em Angola até à geração da Mensagem;
2 - desde a geração da Mensagem até aos anos 80;
3 - dos anos 80 em diante.
Há muito que penso assim mas não tinha nunca formulado, com tal clareza, o meu pensamento. Podem chover críticas, por exemplo dizendo que há um período muito longo e, depois, dois muito curtos. Mas a História não é simétrica. Para além disso, o último período não sabemos quanto vai durar, portanto não sabemos se é curto. O do meio é incontornável: é nele que o escritor e o seu público pensam conscientemente na mudança de paradigma estético e, sobretudo, político. É nesse momento que a angolanidade da literatura se torna uma exigência e a sua construção obrigatória. Após esse momento, breve, de fixação identitária começam os nossos escritores a deslocar-se para fora do circuito estreito do neo-realismo e, com isso, a superar os paradigmas estéticos da Mensagem. Mas só a partir dos anos 80 (A. Costa exemplifica com a publicação de Mayombe, uma obra de charneira sem dúvida, mas há várias outras, de autores revelados nos anos 60 - finais, sobretudo - e 70), só a partir dos anos 80 a literatura angolana fica livre dos paradigmas estéticos da Mensagem. Não se sustentem equívocos: fica livre; deixa de sentir-se obrigada a segui-los (é tão livre de segui-los quanto de não o fazer e geralmente não o faz). A partir daí é de facto outra a nossa história literária: a da disseminação e dispersão, da deriva em busca de novos rumos, encontrando-os, explorando-os, apropriando e transformando localmente novos paradigmas e novos conhecimentos técnicos.
Com essa cronografia António Costa vem a situar perfeitamente a obra de Óscar Ribas dentro do que foram os seus paradigmas estéticos e culturais, do seu tempo e do seu lugar. Outras comunicações completaram o quadro, por exemplo referindo a cultura científica e a ligação entre etnografia e positivismo (para além da ligação com o romantismo de que muito bem fala A. Costa). Mas acho que esta se torna, a par de outras sem dúvida, uma referência básica para os estudantes de literatura angolana. Que somos todos.
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