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13/10/2008

retórica e finanças

Os países mais ricos do mundo vão gastar milhões de euros e dólares para garantir o que uma simples determinação legal podia ter evitado. Os opositores ao liberalismo aproveitam para acusá-lo, parecendo não perceber que reivindicam o mesmo que os políticos dos países capitalistas estão a fazer - ou seja: não têm na verdade nenhuma alternativa. Os políticos tapam os olhos do povo gastando o dinheiro do povo para sustentar a irresponsabilidade dos executivos bancários que apenas olharam para a subida imediata dos lucros, que significava uma subida pessoal nas carreiras e nos rendimentos imediatos deles. A regulação sobre a taxa de liquidez obrigatória dos Bancos e de todas as instituições que façam empréstimos é silenciada no meio deste folclore. E a chave passa por aí. Tal como por punir, finalmente, esses corpos intermédios que são os executivos do espalhafato, dos lucros brutais, imediatos e a todo o custo. Os resultados por eles obtidos não foram só os lucros dos anos anteriores, incluem esta crise. Escudando-se atrás de políticos e empresários, de empresas e instituições cuja dimensão lhes dá abrigo a quase todas as tropelias, há toda uma série de colegas nossos (pessoas com formação académica) gerindo mal instituições públicas e privadas sistematicamente e sem serem chamados à responsabilidade. A sua futilidade precisa de ser julgada. Mais do que pensar a mudança do sistema, é preciso fazer isto: responsabilizar os seus protagonistas. Devem ser impedidos de exercer qualquer cargo directivo durante pelo menos 10 anos. E quem dirigir seja o que for deve responder pelas consequências das suas decisões enquanto elas tiverem consequências. Vejam bem que esta crise não se deve à esquerda nem à direita, a republicanos nem a democratas, mas sim ao desfuncional prolongamento de um sistema político à partida venerável: o adorável Bill Clinton facilitou ao máximo a concessão de créditos (nisso, Obama e vários outros estão enganados: os democratas foram os verdadeiros liberais); os republicanos divertiam-se com as delícias do sexo oral ao presidente; depois, no poder, os republicanos deixaram tudo estar como estava (rendia, todo o mundo tinha a impressão de lucrar com isso, não valia a pena mexer no assunto); finalmente, repostos na maioria, os democratas também não se preocuparam em emendar os erros que eles próprios tinham cometido. Quando 'a crise' (sem a qual o capitalismo não vive, porque ele é a crise, ele sobrevive através de crises e crescimentos alternadamente), quando 'a crise' estala escondem-se todos, mais uma vez, atrás de respeitosas fotografias e os políticos vão-nos aos bolsos para não perdermos o emprego - dizem eles. Na verdade, protegem-se uns aos outros. E o socialismo não tem respostas para isto: fecha a bolsa por uns dias, uns meses, uns anos. Depois é claro que reabre a usura e por isso temos a certeza de que não tem nem gera alternativas. Para sair deste ciclo é preciso voltarmos à terceira via e à possibilidade de actualizar as solidariedades orgânicas, corporativas mesmo (é pior ser corporativo às escondidas, porque escondidamente sempre o que predomina é o vício, não a virtude). E responsabilizar políticos, executivos, empresários, pelas consequências sociais das suas decisões. É hora de obrigar todas as instituições de crédito a uma taxa de liquidez que nos garanta os depósitos e de parar com as brincadeiras levianas destes meninos, para quem se aplaca o pânico financiando com milhões os que nos levaram milhões todos estes anos em juros. Lembram-se de Ezra Pound? Do que ele dizia sobre a usura?