Tinham combinado um só dia de votação, contra a vontade do MPLA. Mais uma vez, o MPLA deu a volta à situação: começa-se atrasado, noutros casos nem sequer se começa e, assim, tem que haver dois dias de votação. A desconfiança que levou à decisão por um só dia parece, pois, justificar-se.
Mas o que de mais sério e desonesto houve nesta eleição (agora que já acabou podemos falar nisso à vontade), foi o facto de o partido no poder a usar com o intuito de criar uma maioria qualificada para mudar a constituição, conforme, por fim, o Presidente confessou no último comício. A desonestidade está nisto: se é para mudar a constituição, tem que se declarar abertamente isso e discutir as mudanças durante a campanha. Para que os deputados entrem no parlamento mandatados para esse efeito. Fazer uma campanha com promessas mirabolantes (que os dois principais partidos fizeram) para depois ir mudar a constituição não parece honesto. Aliás, a situação é tal ainda que bastava uma promessa: a do regresso à normalidade e à saúde pública, à água potável e canalizada para todos, a uma rede de esgotos que sirva todos e funcione mesmo, à luz elétrica para todos e assistência social e sanitária eficaz. Isto era, aliás, o programa inicial dos nacionalistas angolanos, muitos dos quais se integraram, com estes ideais, no MPLA mais tarde.
O que é estranho é que o principal partido da oposição também não tenha denunciado estas coisas. Vamos vivendo mesmo assim.
Ao menos, honra lhe seja feita, a polícia parece ter-se portado bem, ter cumprido bem o seu papel e com neutralidade, como lhe compete. São sinais positivos de uma outra mudança, que talvez não passe por eleições mas por uma consciencialização crescente em relação à Função Pública.
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