O que move Barack Obama é um problema identitário. Um problema que seria totalmente diferente se ele fosse angolano. Os negros acharam-no sempre meio branco e os brancos acharam-no sempre negro. Nos EUA não parece (já é teimosia) existir palavra para mestiços. Depois dos direitos iguais para negros e brancos é preciso reconhecer essa identidade, hoje talvez maioritária nos EUA, que é a dos mestiços.
Na autobiografia agora reeditada é isso que fica nítido: um homem luta, consigo próprio e no mundo, para perceber o que é e o seu problema é ser um bocado uma coisa e um bocado outra, melhor, é ser obviamente mestiço. Todos somos mestiços, costuma-se dizer. Mas esses todos inclui negros, brancos, amarelos, vermelhos e... mestiços, não é?
Os EUA precisam de repensar as vertentes humanas que os compõem e de adoptar o termo próprio para esse vasto segmento da sua população, onde se inclui grande número de afro e euro descendentes, de descendentes de latino-americanos e alguns ainda de ascendência também índia.
Neste sentido, Barack Obama é o candidato ideal para resolver pacificamente o problema racial norte-americano, que precisamente consiste num pensamento e numa classificação racial ainda largamente aceites por todas as partes e que serviu de base à visão que o americano comum tem de si e do seu país. Conhecendo e amando brancos e negros e brancas e negras e reconhecendo-se branco e negro ao mesmo tempo ele será, nesse aspecto, o melhor Presidente para os EUA neste momento.
Publicação em destaque
Átomos estéticos são também cognitivos
“Quando vemos algo além de nossas expectativas, pedaços locais de tecido cerebral geram pequenos ‘átomos’ de afeto positivo. A combinação ...