A avó dela era cartomante. Fomos lá para que falasse do nosso futuro a dois. A cartomante pediu-me um diálogo a sós. Acedi. Fomos esgrimindo subtilmente magias e truques, alguns de linguagem só. No fim despedimo-nos como se devem despedir dois guerreiros que verdadeiramente combateram: com respeito um pelo outro. Quando saí, perguntava-me a neta, com olhos inquiridores, o que ela tinha profetizado. Engoli em seco. Não falámos nisso. Esqueci-me de lhe perguntar. A neta, perplexa e desiludida, pareceu recobrar o sentido de oportunidade da família: cobrou? Nada. Esqueceu-se de cobrar. E fiquei, porém, com a sensação de que ambos - eu e a cartomante - nos conhecíamos muito bem.
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