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Átomos estéticos são também cognitivos

  “Quando vemos algo além de nossas expectativas, pedaços locais de tecido cerebral geram pequenos ‘átomos’ de afeto positivo. A combinação ...

12/11/2024

Fundição - corte e colagem


Para cada amigo tenho sempre um relógio

No fundo claro dos meus olhos

E o milimétrico sintoma dos perdidos passos.


Para cada amigo há sempre

Um arco de sombra, trémulo e quente,

Um copo de vinho entre as cordas

Tensas do destino

E as mandíbulas descalças do espanto

Que ladrilha os caminhos tépidos da manhã:





07/11/2024

Novum organon

Também o ar não pode produzir cintilações pelo simples atrito, como julga o vulgo. Dessa forma, essas cintilações, devido ao peso do corpo em ignição, tendem mais para baixo que para cima, e, depois de extintas, resultam numa espécie de grãos de fuligem



(Francis Bacon)

 

Segundo os antigos,

dizia Francis Bacon, "a inconstância perpétua e o juízo vacilante são o castigo daqueles que, com criminosa audácia e esquecidos de sua condição mortal, aspiram às culminâncias da natureza e da filosofia, como se subissem a uma árvore para devassar os mistérios divinos." Ou seja: se te aproximas da sabedoria, não tens palavras nem frases para descrever, não tens ramificações capazes de alcançar o que vês. O erro é tentá-las. Por fidelidade ao que te parece verdadeiro, ou silencias e vês, ou ficas condenado à mudança constante. Porque não há palavras para a culminância, dedicarás a cada instante um provérbio solto. Reunirás os instantes em poemas curtos como folhas coloridas de calendários. A única alternativa à poesia lírica só poderá ser, então. fotográfica.


 

05/11/2024

O lar:


O fogo reúne as pessoas, o magma os minerais, o esfriamento cristaliza. O abandono deprecia. Dá-lhe arte, para que reviva.


Nas casas romanas havia sempre um átrio, peça fundamental. Ali se recebiam os visitantes, e dali se despediam os que abandonavam o orgulho da vida. Nessa divisão também se abrigava um pequeno altar, o lararium. Consagrava-se pelo altar a memória divina dos antepassados (parece que através do fogo, originalmente, mantendo-se uma chama sempre acesa), que ao mesmo tempo ligavam a família pelo sangue e pela terra. A mulher-esposa teria, como uma das funções primordiais, acender e manter acesa a chama do Lar. Acho que devíamos articular essa função primordial com outra, imprescindível, a de orientar a infância até à adolescência, até ao tempo da escola, à qual o pedagogo levava as crianças. 

Isso era nas famílias ricas, alguém dirá. Seguramente. Os outros, como nós, em Roma passaram a morar em uma espécie de prédios, de onde se atiravam para as ruas as fezes e as urinas da noite, com regulamento e canalização próprios para o fedor escorrer pela calçada. Ainda há poucas décadas - disseram-me - a maioria das pessoas em Évora moravam em pequenos apartamentos sem banheiro. Ainda em casas antigas e relativamente antigas é possível identificar, do lado de fora, um pequeno espaço reservado às sanitas. Isso mesmo ainda ocorre hoje em subúrbios do terceiro mundo. Por exemplo no Lobito. Um espaço aberto é reservado, por estrutura precária de pau e plástico ou panos, às descargas fisiológicas, afastado o suficiente para o cheiro não incomodar as casas - elas também precárias. Aí, porém, haverá espaço para o fogo, se não do Lar, da comunidade. 

Não se guarda em casa a imundície.