O fogo reúne as pessoas, o magma os minerais, o esfriamento cristaliza. O abandono deprecia. Dá-lhe arte, para que reviva.
Nas casas romanas havia sempre um átrio, peça fundamental. Ali se recebiam os visitantes, e dali se despediam os que abandonavam o orgulho da vida. Nessa divisão também se abrigava um pequeno altar, o lararium. Consagrava-se pelo altar a memória divina dos antepassados (parece que através do fogo, originalmente, mantendo-se uma chama sempre acesa), que ao mesmo tempo ligavam a família pelo sangue e pela terra. A mulher-esposa teria, como uma das funções primordiais, acender e manter acesa a chama do Lar. Acho que devíamos articular essa função primordial com outra, imprescindível, a de orientar a infância até à adolescência, até ao tempo da escola, à qual o pedagogo levava as crianças.
Isso era nas famílias ricas, alguém dirá. Seguramente. Os outros, como nós, em Roma passaram a morar em uma espécie de prédios, de onde se atiravam para as ruas as fezes e as urinas da noite, com regulamento e canalização próprios para o fedor escorrer pela calçada. Ainda há poucas décadas - disseram-me - a maioria das pessoas em Évora moravam em pequenos apartamentos sem banheiro. Ainda em casas antigas e relativamente antigas é possível identificar, do lado de fora, um pequeno espaço reservado às sanitas. Isso mesmo ainda ocorre hoje em subúrbios do terceiro mundo. Por exemplo no Lobito. Um espaço aberto é reservado, por estrutura precária de pau e plástico ou panos, às descargas fisiológicas, afastado o suficiente para o cheiro não incomodar as casas - elas também precárias. Aí, porém, haverá espaço para o fogo, se não do Lar, da comunidade.
Não se guarda em casa a imundície.