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Átomos estéticos são também cognitivos
“Quando vemos algo além de nossas expectativas, pedaços locais de tecido cerebral geram pequenos ‘átomos’ de afeto positivo. A combinação ...
14/10/2008
13/10/2008
precipitação
A nova equipa do Ministério da Cultura, se exceptuarmos o historiador Cornélio Caley, é perigosa. Não tanto pelo nativismo subjacente e pelo nitismo sempre dissimulado, mas mais pela precipitação, pelo voluntarismo e intervencionismo que lhes conduz o pensamento. O seu nativismo nunca foi inocente: legitima passando ao lado da sanção democrática, popular; o seu intervencionismo é que pode ser inocente e isso não o torna menos perigoso.
Falo disto a propósito das primeiras afirmações da nova ministra. Foi para além do seu foro para imiscuir-se no ensino das línguas nacionais, aproveitando um evento próximo. Ainda não arrumou a casa e já está a mandar recados para o ministério ao lado. Não é bom prenúncio, penso eu que não é bom prenúncio, amiga Rosa.
Depois, falar assim, de fora, é fácil. Mas onde estão os professores para ensinar as línguas nacionais? Quantos estão a ser formados por ano e quantos podem ser formados no actual sistema de ensino superior? É preciso começar por espalhar e consolidar cientificamente os cursos de formação de professores de línguas nacionais para que tenhamos professores em número e qualidade suficiente. O que significa termos de esperar, para aulas em todo o país, pelo menos cinco a seis anos.
Nesse período é bom irmos cotejando outras experiências. Por exemplo as de Espanha, onde a obrigatoriedade de aprendizagem das línguas locais tem chocado com gerações que, pensando apenas num sentido prático e voltado para a aldeia global, só querem aprender espanhol (castelhano) e inglês. Muitos falantes possuem o espanhol como primeira língua e são obrigados a estudar línguas locais. Será justo? É capaz de ser, mas a liberdade de escolha, para quem não se legitima ideologicamente, é de certeza um princípio a reter.
Por outro lado, enquanto se espera, é de organizar, com os poucos professores que há, cursos de línguas nacionais para pessoas mais velhas, incluindo estrangeiros, que residem aqui tendo que lidar com falantes que preferencialmente usam as línguas locais, a que chamamos por equívoco nacionais. O facto de eles (técnicos superiores, negociantes, licenciados e funcionários públicos) falarem a língua dominante em cada local (para além da portuguesa) mudará muito o cenário, e vai tornar, indirectamente, o ensino e prática das línguas locais mais natural, mais comum e mais eficaz.
Acho que, antes de entrar no campo de acção do Ministério da Educação, a nova Ministra devia arrumar a sua casa e ir pensando com mais prudência nestes problemas todos, informando-se com os colegas do ministério ao lado. Com esse voluntarismo vai somente provocar choques inúteis que em nada ajudam a causa da defesa e ensino de línguas nacionais, que é também uma defesa e ensino da diversidade.
retórica e finanças
Os países mais ricos do mundo vão gastar milhões de euros e dólares para garantir o que uma simples determinação legal podia ter evitado. Os opositores ao liberalismo aproveitam para acusá-lo, parecendo não perceber que reivindicam o mesmo que os políticos dos países capitalistas estão a fazer - ou seja: não têm na verdade nenhuma alternativa. Os políticos tapam os olhos do povo gastando o dinheiro do povo para sustentar a irresponsabilidade dos executivos bancários que apenas olharam para a subida imediata dos lucros, que significava uma subida pessoal nas carreiras e nos rendimentos imediatos deles. A regulação sobre a taxa de liquidez obrigatória dos Bancos e de todas as instituições que façam empréstimos é silenciada no meio deste folclore. E a chave passa por aí. Tal como por punir, finalmente, esses corpos intermédios que são os executivos do espalhafato, dos lucros brutais, imediatos e a todo o custo. Os resultados por eles obtidos não foram só os lucros dos anos anteriores, incluem esta crise. Escudando-se atrás de políticos e empresários, de empresas e instituições cuja dimensão lhes dá abrigo a quase todas as tropelias, há toda uma série de colegas nossos (pessoas com formação académica) gerindo mal instituições públicas e privadas sistematicamente e sem serem chamados à responsabilidade. A sua futilidade precisa de ser julgada. Mais do que pensar a mudança do sistema, é preciso fazer isto: responsabilizar os seus protagonistas. Devem ser impedidos de exercer qualquer cargo directivo durante pelo menos 10 anos. E quem dirigir seja o que for deve responder pelas consequências das suas decisões enquanto elas tiverem consequências.
Vejam bem que esta crise não se deve à esquerda nem à direita, a republicanos nem a democratas, mas sim ao desfuncional prolongamento de um sistema político à partida venerável: o adorável Bill Clinton facilitou ao máximo a concessão de créditos (nisso, Obama e vários outros estão enganados: os democratas foram os verdadeiros liberais); os republicanos divertiam-se com as delícias do sexo oral ao presidente; depois, no poder, os republicanos deixaram tudo estar como estava (rendia, todo o mundo tinha a impressão de lucrar com isso, não valia a pena mexer no assunto); finalmente, repostos na maioria, os democratas também não se preocuparam em emendar os erros que eles próprios tinham cometido. Quando 'a crise' (sem a qual o capitalismo não vive, porque ele é a crise, ele sobrevive através de crises e crescimentos alternadamente), quando 'a crise' estala escondem-se todos, mais uma vez, atrás de respeitosas fotografias e os políticos vão-nos aos bolsos para não perdermos o emprego - dizem eles. Na verdade, protegem-se uns aos outros. E o socialismo não tem respostas para isto: fecha a bolsa por uns dias, uns meses, uns anos. Depois é claro que reabre a usura e por isso temos a certeza de que não tem nem gera alternativas. Para sair deste ciclo é preciso voltarmos à terceira via e à possibilidade de actualizar as solidariedades orgânicas, corporativas mesmo (é pior ser corporativo às escondidas, porque escondidamente sempre o que predomina é o vício, não a virtude). E responsabilizar políticos, executivos, empresários, pelas consequências sociais das suas decisões. É hora de obrigar todas as instituições de crédito a uma taxa de liquidez que nos garanta os depósitos e de parar com as brincadeiras levianas destes meninos, para quem se aplaca o pânico financiando com milhões os que nos levaram milhões todos estes anos em juros.
Lembram-se de Ezra Pound? Do que ele dizia sobre a usura?
12/10/2008
exonerado
Foi finalmente exonerado o governador talvez menos competente e mais corrupto de Angola, há muitos anos a 'governar' Benguela. Em sua substituição vem um general com sentido estratégico, discreto, e com interesses pessoais em empresas de pesca, segundo assegura a blogosfera.
A cidade exultou e, como quem se visse finalmente livre, começou a lembrar toda uma série de episódios tristes que se espera fiquem definitivamente ultrapassados. Contaram-se anedotas, houve muitos risos, muitas pessoas contentes. Hoje de certeza há festas nos quintais.
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