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Átomos estéticos são também cognitivos

  “Quando vemos algo além de nossas expectativas, pedaços locais de tecido cerebral geram pequenos ‘átomos’ de afeto positivo. A combinação ...

13/02/2008

Luanda, 13-02-2008

De novo Luanda. Mais lojas nas avenidas centrais e mais bonitas. O resto a mesma cidade horrível ainda. Começa de manhã: o avião que partia às 8h partirá às 13h. Acabou por partir às 17h e com mais uma rota no caminho. O vôo da TAAG suspenso outra vez. Um país suspenso e adiado muitas vezes - apesar disso caminha. Às vezes a passos largos e desordenados. Os passageiros desembarcaram de volta às 20:45h num aeroporto sem condições nenhumas e que há muito esgotou a sua capacidade de alojamento. Já conseguiram prever que vão fazer outro. Aquele já é de uma ironia que exige atenção. Para voar 45 minutos esperamos um dia inteiro. A viagem Benguela - Luanda de carro é mais rápida e mais interessante, mesmo para quem já a fez várias vezes. Oferecem-nos quase no fim uma miniatura de Amarula. As putas nas boates gostam disso - lembro-me de repente e escondo os pensamentos. Um toque de pernas que nos estremece e lá vem a voz doce, sensual: pagas uma Amarula? A aeromoça tem um sorriso bonito e a roupa está bem desenhada, bem engomada, sorridente também. Depois saímos atropelando-nos uns aos outros. As grávidas prudentemente ficam para trás. Em seguida apanhamos as malas aos encontrões num salão sujo, com o tapete rolante abaulado e damos os olhos empoeirados a um trânsito insuportável, ruas cheias de lixo, carros com som alto e jovens bêbados a amontoarem latas de cerveja na terra batida, ruas estragadas sobre estragos, casas pobres e feias de cimento sem tinta, às vezes sem reboco, uma cidade sem gosto de si mesma, ao lado mesmo de planos mirabolantes que mudarão para sempre e sem jeito a baía cujo assassinato embelezam. Engenharias de compensação. No entanto, tenho bons amigos aqui. Pessoas inteligentes e lúcidas que sabem o que se passa. O presidente demitiu o governador sem explicar. Explicam-me porque não explicou. Não podia. Ele é que o nomeou apesar dos avisos sobre incompetência. Talvez. Mas eu li o próprio despacho. E aquele artigo da Tchizé? Ó pá eu gostei. Ó, como assim? E ela não sabe porque é que não temos quadros? Estou mesmo zangado. O senhorio agora ignora o contrato e quer-me por fora. Já fiz obras e tudo, vê só. Quem é que me defende? O presidente também tem as costas largas, isso é verdade. A periferia rebenta porque o centro não resolve. Eu sei lá. Mas é beber um copo na cidade alta. Dizem que ele não pediu a demissão mas o despacho assegura que sim. Dizem até que quando pedem a demissão o Presidente não escreve que pediram. Exonera só. Amigo Paxe, vai-se já deitar? Vão surgindo momentos bons apesar disso. Quem diria - a flor do entulho. Vida partilhada mesmo assim. E uma Luanda falsa para uns estrangeiros e nacionais todos iguais em qualquer parte. Superficial. Distraída propositadamente. Que vai saltar ao primeiro estremeção. Não digam que não sabiam que tudo isso ia mudar... Bom, ainda não mudou nada, só piorou. É verdade. Já nem a selecção ganhou o CAN.
Em Benguela parece que falharam com a passagem da Cidália. Mais uma vez. Falham sempre. Trocam informações, esquecem de escrever os códigos, dizem que se houver problema lá em Luanda resolvem. Uma mediocridade parada endereça-nos para uma aldrabice monumental. A ver vamos. As patas dos aviões arranham-nos as expectativas e seguem cegamente o vôo. Às voltas lá no céu. Às voltas aqui. Parece que não choveu. Partilhas e fragmentos. Amén. Amãi. Há mãe para isto tudo? Puta que pariu...