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Átomos estéticos são também cognitivos

  “Quando vemos algo além de nossas expectativas, pedaços locais de tecido cerebral geram pequenos ‘átomos’ de afeto positivo. A combinação ...

25/09/2021

Retrato de sombra e espuma


Não, eu não olhei
para trás, Orfeu

eu, um corpo
serpenteando
sobre a roseira

uma ave migratória
tocada pelo fogo



(Daniela Delias, «Roseira», de labirintos e espirais: sete poetas de rio grande. 1ª ed.. São Paulo: Patuá, 2021)

 

24/09/2021

Palavra


à espera de um nome
a coisa de mãos imensas
e olhos extraordinários
desprende-se dos ossos
e espalha pela garganta
a sede de que é feita




 (Daniela Delias, poema «Palavra», primeira estrofe) 

23/09/2021

22/09/2021

Preocupação científica


Les temps de crise invitent 
plus que jamais 
à renoncer au sens commun,
à choisir l’épreuve des faits,
l’expérimentation, la vérification




 )P. Descamps, Manières de voir, Le monde diplomatique, Numéro 179. Bimestriel. Octobre - novembre 2021, editorial(

20/09/2021

Duas ou três flores


se preferes, e com anáfora: 
2 ou 3 mortes
2 ou 3 brancas
2 ou 3 promessas
2 ou 3 lembranças
(e o mar lavando as folhas
do tempo, longo e gris,
na calva monarquia 
do sul)



 

19/09/2021

Espraia


de que onda sai tua voz
que ainda vem úmida e trêmula?




(Cecília Meireles, Canção da Vizinha. Não soaria melhor ela escrever "trêmula e úmida"?)

 

18/09/2021

Os Cossacos de Krasnoyark - ode para Igor Moiseyev


Naquele tempo, gostávamos de juntar as crianças na casa de Krasnoyarsk, nas margens do majestoso rio Yenissei, mesmo no Inverno, quando as pontes gelavam. As meninas da biblioteca traziam sorridentes livrinhos coloridos para ver ao fogo da lareira, pelas manhãs frias, ou no jardim, quando o calor já derreteu as neves e o sol abria os brilhos das ervas ao resplendor. Algumas vinham das montanhas vizinhas, do parque estadual de Stolby e os olhinhos vivos cintilavam por verem a cidade.

Pela tarde, as raparigas sentavam-se a cruzar os fios dos novelos e a conversar, amenas, enquanto as mais novas liam contos de fadas e tocavam inutilmente nos desenhos das pessoas como se fossem de carne e osso. Uma noite as levámos ao ballet e, por todo o tempo, não disseram uma única palavra, maravilhadas. 

Os meninos afastavam-se um pouco para ver os cavalos de Tatysh, ainda resfolegando as fúrias de kirguizes e kazaques. Ao fim do dia gostavam de assistir às danças de Godenko e de ver os mais velhos com bigodes esticados a fumar tabaco escuro no canto dos lábios, enquanto acompanhavam com palmas, excitados, as danças coloridas e rápidas dos pares a quererem também saltar o khorovod. Os olhinhos dos meninos guardavam tudo fascinados. Afinal, iriam ser futuros cossacos. 





17/09/2021