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Átomos estéticos são também cognitivos

  “Quando vemos algo além de nossas expectativas, pedaços locais de tecido cerebral geram pequenos ‘átomos’ de afeto positivo. A combinação ...

19/10/2009

a cortina

cortina

paisagem urbana benguela

tese

Por mão amiga tive conhecimento de uma tese interessante de Carla Susana Além Abrantes sobre M. António, que pretendia ultrapassar a dicotomia negritude / crioulidade. Ao lê-la com atenção, porém, alguns pontos me desiludiram: várias informações erradas e ausência de informações fundamentais sobre a minha pessoa; afirmações sobre o que defendo feitas, em pelo menos duas ocasiões, sem dar o mínimo fundamento textual e confundindo-me (e a José Carlos Venâncio) com o prolongamento do colonialismo e do luso-tropicalismo; suspeitas de que, vivendo em Portugal, afirmamos o que afirmamos por ligações a "interesses" e não podemos expressar o que pensam os angolanos. Tudo isso me parece inadmissível numa tese de mestrado, que pelos vistos se prolonga para um doutoramento, agora sobre «um governo em "desordem", uma elite "incapaz" e cidadãos "excluídos": as condições de um debate em torno do Governo Central de/para Angola». Não sei se é somente como cientista social que a doutoranda está a trabalhar, caso seja, dou-lhe os parabéns pela coragem e estimo que faça uma investigação sistemática, tanto quanto possível exaustiva, isenta. São muitos os caminhos sinuosos e o que se vê por todo o lado, geralmente, oculta o que se passa. Deixo entretanto alguns esclarecimentos: nasci em Lisboa, no Kapiandalo e na Chila, o que não é pouco. Vivo em Benguela, onde fazia relativamente curtas estadias, e moro aqui desde Julho de 2006, o que também não é pouco (sabem os que vivem cá, do seu salário de professor, como eu). Trabalho com a Universidade Agostinho Neto desde Julho de 2005 e também não foi pouco, sobretudo no período em que os salários chegavam a atrasar 4 e 5 meses. Quando saí daqui fui para o seu país e não para Portugal, tendo vivido em Campinas até Maio de 1979. Não conheci Mário António Fernandes de Oliveira nem, portanto, privei com ele. Finalmente: a minha vivência da Angola de hoje no território (porque há de facto as Angolas da diáspora e também são Angola) só tem reforçado a hipótese que desenvolvo sobre a crioulidade e a literatura e a identidade angolanas. Se assim não fosse teria abandonado esse posicionamento. A nossa estrutura mental é cada vez mais híbrida e crioula, sim. Não há porque fugir a isso e pensar em termos de subterfúgio, a ciência não avança com subterfúgios ou com medo do que pensem de nós algumas pessoas. Se quiser esclarecer-se, contacte-me.

16/10/2009

antigo forte

(foto: Cidália Cotrim)

segue

Segue. Nem das pedras Recordes: o caminho Só foi feito para andar.

fala antes da fala

A partir das leituras que fui fazendo em neurobiologia, particularmente a de António Damásio, percebi que havia, ou pelo menos podia haver, uma espécie de fala antes da fala, fosse ela com imagens sonoras e visuais ou só com uma dessas componentes (a visual). Isso está implícito, é dedutível dessas obras que, se não o dizem explicitamente, deixam-nos todos os elementos necessários para o concluir. Essa minha intuição, em que tenho fundado uma das reformulações que proponho para a teoria literária, encontra-se cada vez melhor e mais exatamente formulada, em termos científicos. A última notícia vem num artigo da revista Science, no número acabado de sair. O artigo reporta uma experiência, relatada a pp.445 do mesmo número, que demonstra que a área de Broca é ativada para a produção e para a compreensão da linguagem, bem como nas operação de 'unificação' de sons em palavras e de palavras em frases, atravessando e superando as fronteiras entre fonologia, morfologia e sintaxe. Outro dado interessante é que a área de Broca é ativada igualmente para atividades cerebrais relacionadas com a música e a própria ação. Podem consultar o artigo em causa, de Peter Hagoort e Willelm J. M. Levelt, seguindo a hiperligação. Boa leitura.