A primeira parte do colóquio sobre Óscar Ribas, comemorativo do centenário, foi preenchida com comunicações de linguistas, etnógrafos e antropólogos. Devo confessar que me pareceu de qualidade muito variável. É de destacar, por exemplo, a conferência da Prof.ª Amélia Mingas, pela positiva - mas havia mais interessantes, cujos autores não recordo agora. Pela negativa, algumas também. Destaco a de Américo Kwononoka. Lamentável, precipitada, cheia de veleidades e muito pouco humilde. No meio, para coroar as asneiras e leviandades, diz animadamente, partindo de Malinowski e da sua defesa da intimidade com o objeto estudado, diz animada e perentoriamente que, para se conhecer a cultura de um povo, é preciso trazê-la no corpo, e para tê-la no corpo é preciso tê-la no sangue, por herança genética. Portanto, não sei como o Dr. Kwononoka pode falar da cultura científica europeia, por exemplo, ou como o próprio Malinowski podia ter estudado povos cujo sangue não corria nas suas veias. Sentado no trono de vice-ministro, Luís Kandjimbo extasiava-se com um brilho evidente nos olhos... Que bela fotografia!
Publicação em destaque
Átomos estéticos são também cognitivos
“Quando vemos algo além de nossas expectativas, pedaços locais de tecido cerebral geram pequenos ‘átomos’ de afeto positivo. A combinação ...
21/08/2009
óscar ribas I
Óscar Ribas foi sem dúvida uma figura central da cena cultural e literária angolana. Para que volte a ser, a sua obra e a sua figura humana foram lembradas em Luanda, numa iniciativa do Ministério da Cultura, que vinha já do Ministério anterior, onde a proposta foi levada pelo antigo vice-ministro Virgílio Coelho. Aparentemente, a iniciativa era de louvar, tanto mais que, ao mesmo tempo, se republicaram quase todas as obras do Autor. Faltam pelo menos dois títulos mas o Ministério assegura que sairão em breve. Isso realmente é de louvar, embora não seja uma edição crítica e, dado que Óscar Ribas mudava as obras de uma para outras edições, deixando ainda por cima inéditos e acrescentos inéditos, a edição crítica era imprescindível. Ainda assim, valeu a pena.
19/08/2009
16/08/2009
15/08/2009
13/08/2009
antónio pompílio na fronteira
Por vicissitudes várias fui-me apercebendo, desde o início, da existência deste poeta, nascido em 1964. Confesso que, desde o início também, os livros dele me pareceram precipitados. São casos em que os nomes vão ficando em suspenso até melhores novidades. Creio que desta vez isso aconteceu: melhores novidades.
António Pompílio pubicou mais uma coletânea de poemas, Fronteira: a passagem do limite (Luanda, UEA, 2008). O próprio título define o sentido com que o poeta fala em fronteira: não como bloqueio mas como lugar que marca o instante em que vamos para além (de nós, da memória). O prefácio parece-me oportuno, chamando Glissant para a interpretação da obra e compreendendo que a poesia é isso mesmo: a superação dos limites - através da beleza, claro.
A coletânea constitui uma boa surpresa, com um ritmo entre prosa e verso, uso de alguns tímidos mas oportunos grafismos, imagens apropriadas a um texto em aberto mas coeso. De quando em quando, ainda aparecem gorduras, excrescências, palavras e figuras que não se percebe o que fazem ali, poeticamente não se justificam. Alguma imagem pode parecer desajeitada. Mas há um conjunto de bons poemas. O autor parece ter entrado numa fase propriamente poética. É de saudar. Que seja bem vindo e continue na mesma senda. Para o leito do leitor não ficar a seco exposto à aridez desta prosa, copio uma das composições:
Peugada
O calção roto sorriu das rotas das pernas sem pés, com os calos das botas pequenas: um par só à chuva, no triste frio da estrada sem olhos.
Kandando, Pompílio.
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