Alojado
entre dois gritos
o dia novo
inflama
o órgão, avança,
língua
de sua substância
interna
e penetrante
no ani
versário do povo.
Publicação em destaque
Átomos estéticos são também cognitivos
“Quando vemos algo além de nossas expectativas, pedaços locais de tecido cerebral geram pequenos ‘átomos’ de afeto positivo. A combinação ...
16/10/2008
15/10/2008
casa
Imagens que equilibram e curam
Realçando o colorido da vida,
A ligação das cordas vibratórias
Ao fantasma dos núcleos inurbanos:
Flechas e tankas
Labirintos e círculos
Mandalas e saunas
Tambores de água
A dança das cabaças
Lojas sonorizadas
Lagartas com asas
Excessos e súmulas
Nenhumas coisas
tudo
nada
um
tudo
nada
só
vazia estrada
apertada
por um nó
que lhe deu casa
movimento
cenário
voo
pó
14/10/2008
inania verba
Ah! quem há de exprimir, alma impotente e escrava,
O que a boca não diz, o que a mão não escreve?
- Ardes, sangras, pregado à tua cruz, e, em breve,
Olhas, desfeito em lodo, o que te deslumbrava...
O Pensamento ferve, e é um turbilhão de lava:
A Forma, fria e espessa, é um sepulcro de neve...
E a Palavra pesada abafa a Ideia leve,
Que, perfume e dano, refulgia e voava.
Quem o molde achará para a expressão de tudo?
Ai! quem há de dizer as ânsias infinitas
Do sonho? e o céu que foge à mão que se levanta?
E a ira muda? e o asco mudo? e o desespero mudo?
E as palavras de fé que nunca foram ditas?
E as confissões de amor que morrem na garganta?!
(Olavo Bilac)
13/10/2008
precipitação
A nova equipa do Ministério da Cultura, se exceptuarmos o historiador Cornélio Caley, é perigosa. Não tanto pelo nativismo subjacente e pelo nitismo sempre dissimulado, mas mais pela precipitação, pelo voluntarismo e intervencionismo que lhes conduz o pensamento. O seu nativismo nunca foi inocente: legitima passando ao lado da sanção democrática, popular; o seu intervencionismo é que pode ser inocente e isso não o torna menos perigoso.
Falo disto a propósito das primeiras afirmações da nova ministra. Foi para além do seu foro para imiscuir-se no ensino das línguas nacionais, aproveitando um evento próximo. Ainda não arrumou a casa e já está a mandar recados para o ministério ao lado. Não é bom prenúncio, penso eu que não é bom prenúncio, amiga Rosa.
Depois, falar assim, de fora, é fácil. Mas onde estão os professores para ensinar as línguas nacionais? Quantos estão a ser formados por ano e quantos podem ser formados no actual sistema de ensino superior? É preciso começar por espalhar e consolidar cientificamente os cursos de formação de professores de línguas nacionais para que tenhamos professores em número e qualidade suficiente. O que significa termos de esperar, para aulas em todo o país, pelo menos cinco a seis anos.
Nesse período é bom irmos cotejando outras experiências. Por exemplo as de Espanha, onde a obrigatoriedade de aprendizagem das línguas locais tem chocado com gerações que, pensando apenas num sentido prático e voltado para a aldeia global, só querem aprender espanhol (castelhano) e inglês. Muitos falantes possuem o espanhol como primeira língua e são obrigados a estudar línguas locais. Será justo? É capaz de ser, mas a liberdade de escolha, para quem não se legitima ideologicamente, é de certeza um princípio a reter.
Por outro lado, enquanto se espera, é de organizar, com os poucos professores que há, cursos de línguas nacionais para pessoas mais velhas, incluindo estrangeiros, que residem aqui tendo que lidar com falantes que preferencialmente usam as línguas locais, a que chamamos por equívoco nacionais. O facto de eles (técnicos superiores, negociantes, licenciados e funcionários públicos) falarem a língua dominante em cada local (para além da portuguesa) mudará muito o cenário, e vai tornar, indirectamente, o ensino e prática das línguas locais mais natural, mais comum e mais eficaz.
Acho que, antes de entrar no campo de acção do Ministério da Educação, a nova Ministra devia arrumar a sua casa e ir pensando com mais prudência nestes problemas todos, informando-se com os colegas do ministério ao lado. Com esse voluntarismo vai somente provocar choques inúteis que em nada ajudam a causa da defesa e ensino de línguas nacionais, que é também uma defesa e ensino da diversidade.
retórica e finanças
Os países mais ricos do mundo vão gastar milhões de euros e dólares para garantir o que uma simples determinação legal podia ter evitado. Os opositores ao liberalismo aproveitam para acusá-lo, parecendo não perceber que reivindicam o mesmo que os políticos dos países capitalistas estão a fazer - ou seja: não têm na verdade nenhuma alternativa. Os políticos tapam os olhos do povo gastando o dinheiro do povo para sustentar a irresponsabilidade dos executivos bancários que apenas olharam para a subida imediata dos lucros, que significava uma subida pessoal nas carreiras e nos rendimentos imediatos deles. A regulação sobre a taxa de liquidez obrigatória dos Bancos e de todas as instituições que façam empréstimos é silenciada no meio deste folclore. E a chave passa por aí. Tal como por punir, finalmente, esses corpos intermédios que são os executivos do espalhafato, dos lucros brutais, imediatos e a todo o custo. Os resultados por eles obtidos não foram só os lucros dos anos anteriores, incluem esta crise. Escudando-se atrás de políticos e empresários, de empresas e instituições cuja dimensão lhes dá abrigo a quase todas as tropelias, há toda uma série de colegas nossos (pessoas com formação académica) gerindo mal instituições públicas e privadas sistematicamente e sem serem chamados à responsabilidade. A sua futilidade precisa de ser julgada. Mais do que pensar a mudança do sistema, é preciso fazer isto: responsabilizar os seus protagonistas. Devem ser impedidos de exercer qualquer cargo directivo durante pelo menos 10 anos. E quem dirigir seja o que for deve responder pelas consequências das suas decisões enquanto elas tiverem consequências.
Vejam bem que esta crise não se deve à esquerda nem à direita, a republicanos nem a democratas, mas sim ao desfuncional prolongamento de um sistema político à partida venerável: o adorável Bill Clinton facilitou ao máximo a concessão de créditos (nisso, Obama e vários outros estão enganados: os democratas foram os verdadeiros liberais); os republicanos divertiam-se com as delícias do sexo oral ao presidente; depois, no poder, os republicanos deixaram tudo estar como estava (rendia, todo o mundo tinha a impressão de lucrar com isso, não valia a pena mexer no assunto); finalmente, repostos na maioria, os democratas também não se preocuparam em emendar os erros que eles próprios tinham cometido. Quando 'a crise' (sem a qual o capitalismo não vive, porque ele é a crise, ele sobrevive através de crises e crescimentos alternadamente), quando 'a crise' estala escondem-se todos, mais uma vez, atrás de respeitosas fotografias e os políticos vão-nos aos bolsos para não perdermos o emprego - dizem eles. Na verdade, protegem-se uns aos outros. E o socialismo não tem respostas para isto: fecha a bolsa por uns dias, uns meses, uns anos. Depois é claro que reabre a usura e por isso temos a certeza de que não tem nem gera alternativas. Para sair deste ciclo é preciso voltarmos à terceira via e à possibilidade de actualizar as solidariedades orgânicas, corporativas mesmo (é pior ser corporativo às escondidas, porque escondidamente sempre o que predomina é o vício, não a virtude). E responsabilizar políticos, executivos, empresários, pelas consequências sociais das suas decisões. É hora de obrigar todas as instituições de crédito a uma taxa de liquidez que nos garanta os depósitos e de parar com as brincadeiras levianas destes meninos, para quem se aplaca o pânico financiando com milhões os que nos levaram milhões todos estes anos em juros.
Lembram-se de Ezra Pound? Do que ele dizia sobre a usura?
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