“Inconscientemente eu atirei os olhos à torre bárbara que domina a avenida longuíssima dos plátanos. Sobre o silêncio tornado intenso ela revivia o seu mito longínquo e selvagem: enquanto por visões distantes, por sensações obscuras e violentas um outro mito, ainda ele místico e selvagem, me acorria à mente de rompante. Lá em baixo tinham trazido as longas vestes molemente para o esplendor vago da porta os passeantes, os antigos; o campo entorpecia agora nas redes de canais: raparigas de vestidos ágeis, com perfis de medalha, desapareciam de repente sobre os carreiros atrás das curvas verdes. Um toque de campainha argentino e doce de distância: a Noite: na igrejinha solitária, à sombra das modestas naves, eu estreitava-A, pelas carnes róseas e pelos acesos olhos fugitivos: anos e anos e anos fundiam-se na doçura triunfal da recordação”.
Dino Campani, Canti orficci, 1915, fragmento [2] («La Notte»)