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Átomos estéticos são também cognitivos
“Quando vemos algo além de nossas expectativas, pedaços locais de tecido cerebral geram pequenos ‘átomos’ de afeto positivo. A combinação ...
02/07/2009
01/07/2009
30/06/2009
mingota
A mãe vem de Malanje para levar a filha com meningite ao Hospital. No Hospital não há camas disponíveis e a doente é rejeitada. A mãe pede então uma ambulância para levá-la a outro hospital e os servidores públicos pedem-lhe dinheiro por fora para tratar disso. A mãe não tem, sai a pé dirigindo-se a outro hospital público. A meio do caminho, na portaria da Televisão Pública de Angola, a jovem morre. Felizmente a Televisão pegou no assunto, o Ministro mostrou uma sincera tristeza e desapontamento, o hospital pediu desculpas e disse que ia punir os funcionários - mas reafirmou que não podiam receber a doente por falta de cama.
Isto acontece diariamente, não só aqui mas agora foi notícia entre nós. E a única novidade é essa. Na verdade, a maioria de nós não tem a menor noção da responsabilidade na profissão; vigiar e punir os irresponsáveis é ainda considerado muito feio, exemplo de repressão que lembra os velhos tempos. A subserviência com que nos damos a ordens injustas e acenos de corrupção, a gula com que todos os dias vemos tanta gente aproveitar-se das mais pequenas necessidades para extorquir dinheiro no que deviam ser serviços públicos, só têm contraponto no desleixo, desprezo e desconsideração com que tratamos o conceito de dever e de responsabilidade pública, social, humana.
Provavelmente nem vão sofrer grandes consequências os escroques que tentaram extorquir dinheiro à mãe aflita. Mas o que seguramente ninguém fará, muito menos os responsáveis que chegam tarde, saem cedo e despacham os subordinados aos 'bafos' para fazerem o serviço deles, muito menos os responsáveis irão estar lá, sempre que necessário, para vigiar e corrigir comportamentos destes. Enquanto não mudarmos essa mentalidade, ironicamente cultivada anos a fio pelo monopartidarismo, não adianta mais nada. Nem mesmo ir morrer à porta da Televisão.
29/06/2009
as mulheres do pai dele
Continuo avesso a ler romances, em particular os mais longos. Recentemente os romancistas angolanos mostram tendências acentuadas para a prolixidade e Agualusa vai pelo mesmo caminho em As mulheres do meu pai. Eu, pelo contrário, estou farto de palavrismo.
O autor continua a demonstrar uma razoável capacidade de efabulação, escreve com facilidade e várias vezes com beleza, mantendo algum suspense sem exagero. São qualidades a seu favor.
Mas não se percebe tanta prolixidade, capítulos ou sub-capítulos perfeitamente desnecessários, alguns sem qualquer relação com os enredos em jogo; não bastando, somos constantemente interrompidos por notas de rodapé que, ou ficavam perfeitamente ao correr do texto, ou não fazem lá falta nenhuma, somando-se-lhe ainda notas de um adolescente que pela primeira vez consulta o dicionário Houaiss (maravilhoso sem dúvida, o melhor em língua portuguesa); por demasiadas vezes as personagens apresentam pensamentos ou falas demasiado longos e literários; parece que o nosso amigo desatou a escrever como se ganhasse por página, ou quer concorrer com a prolixidade dos outros, que em nada abona em favor deles também.
Outro aspeto em desfavor prende-se ainda com as falas e os pensamentos das personagens: falam e pensam todos da mesma maneira, com poucas diferenças de conteúdo (algumas muito explícitas, como que para marcar, o resto quase não existe), mas sobretudo sem diferenças ao nível da própria linguagem. Falam todos e escrevem como o próprio autor. Ora o autor faz um jogo em que cada capítulo ou sub-capítulo é uma fala, ou um escrito, de uma personagem, como fez Pepetela no Mayombe e muitos outros em muitos outros livros. No caso de As mulheres do meu pai o jogo não contempla qualquer indicação de quem está a falar ou escrever. É um truque para envolver o leitor, mantendo-o entretido também com a adivinhação de 'quem será que fala desta vez'. Aí Agualusa foi esperto. Só que, para isso funcionar assim, é preciso dar um mínimo de diferenciação à fala-escrita das personagens, que devem de resto ter algo próprio, e o que vemos é que a sua (mínima aliás) definição social e psicológica não vê correspondência na sua expressão.
Ainda em desfavor a facilitação dos enredos, em que tudo dá miraculosamente certo (deus ex machina diriam os clássicos europeus), tudo combina com demasiada facilidade, para dar jeito a quem escreve e há qualquer coisa, continua a haver neste livro, qualquer coisa de enredo de telenovela ou fotonovela. Não sei se o autor pretende ver uma obra sua transposta para a televisão, mas isso, na minha opinião, prejudica. Faz do enredo uma manta de retalhos cozida à pressa, labiríntica como convém às novelas, mas em que os fios que desenredam o labirinto são muitas vezes forçados e de um gosto ora demasiado sentimental, ora demasiado policiesco. De um policial, porém, de receita simplificada para resultados rápidos.
Em resumo, temos aí mais um livro oscilante de um autor oscilante, embora com notórias capacidades. Provavelmente Agualusa passará ao lado de uma grande obra, de que nos deixará alguns bons sinais apenas. A crítica angolana, de forma muito geral, continua a ignorá-lo. Faz mal, porque a sua obra continua a ter interesse apesar destes defeitos (e há outros maiores em romancistas angolanos reverenciados). Merece, pelo menos, que estejamos atentos a ela, porque tem bons e excelentes momentos, sobretudo nas narrativas curtas. Mas, se não o ignorasse a maioria, teria razões para elogiá-lo e criticá-lo. Como não o lêem, os jornalistas culturais e críticos que por aqui se promovem, grandes cérebros do vazio que lhes atordoa a cabeça, atuam como muitos em Portugal: fazendo uso da má-língua em surdina para 'queimar' alguém que, se queriam 'queimar', deviam fazê-lo com o papel dos seus livros.
28/06/2009
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