Muitas sombras de gente já falecida ocupam-se somente em lamber as ondas
do rio dos mortos, porque ele se origina de nós e conserva o gosto salgado de
nossos mares. Então o rio, tomado de nojo, cria uma corrente contrária e empurra
os mortos novamente à vida. Daí eles ficam felizes, entoam canções de
agradecimento e acariciam o rio rebelde.
Publicação em destaque
Átomos estéticos são também cognitivos
“Quando vemos algo além de nossas expectativas, pedaços locais de tecido cerebral geram pequenos ‘átomos’ de afeto positivo. A combinação ...
07/12/2008
05/12/2008
...dos últimos dias
O mistério é sempre perigoso.
A proliferação de magos e adivinhos no tempo do racionalismo
É um grande mistério.
A proliferação de igrejas e de santos no tempo do roubo
É talvez um baptistério.
anoitesser
Era a noite. Iam
As sombras a comer
Os esquivos caminhos
E as chimeras loquazes...
Ainda vinhos de luz
Ardiam deste lado
Do orizonte, Senhora, a desser
E agora transido,
Em cena, espera e ora
Com os ossos do passado:
A Verdade principia
Pelo que em nós
Podia ter sido.
(de As trevas e os dias)
ponte
Foi inaugurada a ponte (metálica) sobre o rio Limbuata, eixo rodoviário que liga a sede municipal do Caimbambo à comuna da Canhamela, na província de Benguela. A ponte foi realizada em dois meses, tempo considerado recorde. Embora o projecto viesse de antes, como tantos outros, a sua rápida e eficaz resolução faz crescer nos benguelenses, desconfiados ainda, alguma esperança no destino da província.
Por outro lado o novo governador parece ver com simpatia a multiplicação de mini-hídricas para resolver localmente as necessidades de energia eléctrica. Dadas as características do interior da província, parece uma solução (entre outras anteriormente aventadas) ecologicamente aconselhável e também eficaz.
Veremos mas, para já, continua no mínimo o benefício da dúvida.
04/12/2008
03/12/2008
tão constitucional!
O constitucionalista Adérito Correia acha normal que, antes da eleição para a Presidência, seja mudada a Constituição do país. A 'normalidade' vem de não se poder eleger o Presidente com um figurino e depois, logo a seguir, mudar esse figurino. A. C. diz que há legitimidade igual em ele ser eleito pelo parlamento ou directamente (lembro-me da campanha das 'directas já' no Brasil, uma bandeira do fim da ditadura militar). Tudo bem. Também concordo com o modelo presidencial e acho que o eleito será o mesmo, mas não é o mesmo ser eleito por sufrágio directo ou num parlamento onde o partido maioritário detém 81 vírgula tal por cento. Se os deputados disputam a eleição directa, o Presidente deve fazê-lo também - até para sabermos que percentagem da população se arrependeu já do voto no MPLA e para darmos lugar à diversidade na escolha.
O problema está nisto: se não é correcto eleger um presidente e logo a seguir mudar a Constituição, será correcto eleger um parlamento sem avisar a população de que a nova assembleia se destina a mudar a Constituição? Será correcto, em função das legislativas (que não foram constituintes), escolher e nomear um governo que, antes de um ano, terá de ser reformulado para o novo figurino presidencialista?
Não nos esqueçamos do mote da campanha: servir o povo melhor, fazer as coisas funcionar, incrementar o desenvolvimento e os projectos sociais. Para convencer o povo se asfaltaram as ruas à pressa, se deu aquela aparência de que íamos caminhar a passos largos para uma superior qualidade de vida. Mas ninguém nos disse que, afinal, logo a seguir, iam mudar a Constituição em aspectos tão fundamentais quanto a eleição do presidente e o cariz do regime (presidencialista, parlamentar ou semi-presidencial como é agora).
Isto é o que se pode chamar um golpe de estado 'jurídico'.
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