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Átomos estéticos são também cognitivos

  “Quando vemos algo além de nossas expectativas, pedaços locais de tecido cerebral geram pequenos ‘átomos’ de afeto positivo. A combinação ...

23/09/2008

farrapo velho

Nem por acaso, ontem falei disso. Nova reacção à HRW em Angola: não devem ingerir nos negócios internos... Onde é que já ouvimos isto? Desculpas globalizadas...

22/09/2008

pescaria, caota

hoje

Hoje

Toda a feliz civil idade me entre tece

— Torpor acordoado contra o vento.

Ontem no seu grão predisse a voz:

O zelo assistirá, atento,

À criação do evento

Preso nas teias da lesão do tempo

Que a velha aranha tece

Maduro.

Via-se da pescaria:

Nas redes velhas da traineira

A sorte sombreava a cor.

O paraíso é uma casa sem sustento.

Um movimento sôfrego asfixia

O ar, a clara noite que envelhece.

O lago é a esteira do sedento.

O segredo contém a novidade:

O censo do mundo que, morrendo,

Sustenta a eterna idade.

sinal fechado

(a)chavismos

A Human Rights Watch leu o seu relatório sobre a Venezuela em Caracas. Naturalmente criticou o governo do país por estar a cercear a liberdade e a democracia. O resultado imediato já lhes deu razão: foram expulsos do país imediatamente. Não sei o que é que o tal socialismo bolivariano tem de novo. Trata-se apenas de mais uma ditadura populista e de esquerda. Que só não faz pior porque ainda não pode fazer. Apesar de tudo (a campanha maciça para silenciar e insultar a HRW) o governo angolano não fez o mesmo. Esperemos que nunca faça.

21/09/2008

o instante


Só um instante
Nos magoava.
Um rigoroso instante.
Nos pomares de maçãs
O rumo da caravela
Distante – vermelho o mar
A debruar
Os lábios e o estrume
Da chuva.
(teia de luz a penumbra,
suspensa da estória de um abismo;
o que nos une é aquilo que se
para)
Entre nós há frutos que tombam
Para cobrir o chão de noite.
Para calarem sobre lagos
Encantados o sal das pedras,
Noivas de nuvens e com dote.
Para que a sede nos devolva
A água;
Para selar os ecos onde vem o vento
(adulterino, o que não espanta)
Desdizer o desenho do passado; para
Pastar a paz antiga, húmida,
Sobre o solo diurno e indefinido.
Um instante, só,
Nos separava.
E era a eternidade.
(entre tanto, no chão,
A tua sombra calma respirava)

iolanda aldrei

Ainda que seja longe a luz,
ainda que a dor saiba dos desejos,
ainda que na alva
continue o nome
e a memória,
e o amor brilhe
entre as trevas,
ainda...

20/09/2008

o escritor profundo seria mudo

Poderíamos admitir que o escritor verdadeiramente «profundo» fosse afinal aquele que não escrevesse. E que não escrevesse devido justamente ao seu sentido agudo da profundeza, que lhe faz sentir o miserável desnível que há sempre entre aquilo que se escreve e a infinita complexidade de todas as coisas deste mundo (José Bacelar) - a da própria linguagem relacional e imaginal, anterior a toda a escrita, podíamos acrescentar. Pois nela tudo liga a tudo, as implicações desmultiplicam-se e não há linguagem verbal tão poderosa que, sofrendo disso, exprima e ultrapasse isso.