À sombra das grandes árvores verdes
Escrevo meu baú de vime, atraído
pelos brilhos nas folhas intermitentes
Quando a brisa agita o sol.
As árvores têm casca
E condomínios dentro das nuvens
Mas a alma não tem pele
Mas a alma não tem casa,
A alma não tem nada,
Não tem. Alma.
As árvores têm raízes
E cidades e punhos e ninhos,
Mas as raízes da alma
Estão no voo indelével
Do caminho aberto,
No passo imprevisível
Entre folhagens quando
O pano da noite cai.
As árvores nascem, crescem,
Engrossam as veias de nervos densos
E lentos, despem-se e vestem-se,
Depois morrem, majestosas e dignas
Longe dos filhos
Como as velhas casas.
Mas a alma não sofre pelos dias. A seiva
Da alma vem do vento quando roça
A última gota de orvalho sobre o galho seco
De uma árvore morta. Porém,
À sombra das grandes árvores verdes
Folhiam versos de pernas para o céu
o rumor da seiva que as traz
Elevando o fruto no dilúculo e na penumbra.
Abelha investindo seu faro de mel
No intermitente brilho do vento
Entre folhas batidas pelo sol
À sombra das grandes árvores verdes escrevo
A oração continuada
De um continente evaporado.