Avançando nas desoras
Entro para dentro dos sinos
E oiço mundos perdidos,
Fumos que levantam
Da areia molhada na clepsidra
A música suave das palavras
Milenares, buscam a sombra
Desconhecida do seu rosto.
Na tapeçaria dos fios enrolados
Por abutres e falcões,
Cicoamangas, águias audazes e pássaros agoirentos
De longos narizes afiados
Entre sulcos de sombras;
Na tapeçaria das areias enroladas
Onde o mar deixou os resíduos sem adjectivos,
Onde ficou apenas a música suave das palavras
Lentas, a dignidade silenciosa e mágica da noite
Enquanto escoavam
Nas órbitas vazias
Com olhos revirados
Fitando mundos
Que só pressentimos
Por uma sombra ténue,
Rápida e voraz
Insinuando as órbitas
Vazias, desaparecidas
Quando contentes
Fixavam a luz
Que a terra apenas
O oiro das imagens
Consentia, voláteis,
Breves, incompletas.
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Átomos estéticos são também cognitivos
“Quando vemos algo além de nossas expectativas, pedaços locais de tecido cerebral geram pequenos ‘átomos’ de afeto positivo. A combinação ...
17/10/2008
16/10/2008
o dia novo
Alojado
entre dois gritos
o dia novo
inflama
o órgão, avança,
língua
de sua substância
interna
e penetrante
no ani
versário do povo.
15/10/2008
casa
Imagens que equilibram e curam
Realçando o colorido da vida,
A ligação das cordas vibratórias
Ao fantasma dos núcleos inurbanos:
Flechas e tankas
Labirintos e círculos
Mandalas e saunas
Tambores de água
A dança das cabaças
Lojas sonorizadas
Lagartas com asas
Excessos e súmulas
Nenhumas coisas
tudo
nada
um
tudo
nada
só
vazia estrada
apertada
por um nó
que lhe deu casa
movimento
cenário
voo
pó
14/10/2008
inania verba
Ah! quem há de exprimir, alma impotente e escrava,
O que a boca não diz, o que a mão não escreve?
- Ardes, sangras, pregado à tua cruz, e, em breve,
Olhas, desfeito em lodo, o que te deslumbrava...
O Pensamento ferve, e é um turbilhão de lava:
A Forma, fria e espessa, é um sepulcro de neve...
E a Palavra pesada abafa a Ideia leve,
Que, perfume e dano, refulgia e voava.
Quem o molde achará para a expressão de tudo?
Ai! quem há de dizer as ânsias infinitas
Do sonho? e o céu que foge à mão que se levanta?
E a ira muda? e o asco mudo? e o desespero mudo?
E as palavras de fé que nunca foram ditas?
E as confissões de amor que morrem na garganta?!
(Olavo Bilac)
13/10/2008
precipitação
A nova equipa do Ministério da Cultura, se exceptuarmos o historiador Cornélio Caley, é perigosa. Não tanto pelo nativismo subjacente e pelo nitismo sempre dissimulado, mas mais pela precipitação, pelo voluntarismo e intervencionismo que lhes conduz o pensamento. O seu nativismo nunca foi inocente: legitima passando ao lado da sanção democrática, popular; o seu intervencionismo é que pode ser inocente e isso não o torna menos perigoso.
Falo disto a propósito das primeiras afirmações da nova ministra. Foi para além do seu foro para imiscuir-se no ensino das línguas nacionais, aproveitando um evento próximo. Ainda não arrumou a casa e já está a mandar recados para o ministério ao lado. Não é bom prenúncio, penso eu que não é bom prenúncio, amiga Rosa.
Depois, falar assim, de fora, é fácil. Mas onde estão os professores para ensinar as línguas nacionais? Quantos estão a ser formados por ano e quantos podem ser formados no actual sistema de ensino superior? É preciso começar por espalhar e consolidar cientificamente os cursos de formação de professores de línguas nacionais para que tenhamos professores em número e qualidade suficiente. O que significa termos de esperar, para aulas em todo o país, pelo menos cinco a seis anos.
Nesse período é bom irmos cotejando outras experiências. Por exemplo as de Espanha, onde a obrigatoriedade de aprendizagem das línguas locais tem chocado com gerações que, pensando apenas num sentido prático e voltado para a aldeia global, só querem aprender espanhol (castelhano) e inglês. Muitos falantes possuem o espanhol como primeira língua e são obrigados a estudar línguas locais. Será justo? É capaz de ser, mas a liberdade de escolha, para quem não se legitima ideologicamente, é de certeza um princípio a reter.
Por outro lado, enquanto se espera, é de organizar, com os poucos professores que há, cursos de línguas nacionais para pessoas mais velhas, incluindo estrangeiros, que residem aqui tendo que lidar com falantes que preferencialmente usam as línguas locais, a que chamamos por equívoco nacionais. O facto de eles (técnicos superiores, negociantes, licenciados e funcionários públicos) falarem a língua dominante em cada local (para além da portuguesa) mudará muito o cenário, e vai tornar, indirectamente, o ensino e prática das línguas locais mais natural, mais comum e mais eficaz.
Acho que, antes de entrar no campo de acção do Ministério da Educação, a nova Ministra devia arrumar a sua casa e ir pensando com mais prudência nestes problemas todos, informando-se com os colegas do ministério ao lado. Com esse voluntarismo vai somente provocar choques inúteis que em nada ajudam a causa da defesa e ensino de línguas nacionais, que é também uma defesa e ensino da diversidade.
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