Esta simples frase pode provocar reações tão diversas quantos os contextos em que seja dita. Aqui menciono-a por um contexto que, provavelmente, o leitor, a leitora, não esperam. É que, em solidariedade com a saúde do planeta e a propósito da cimeira de Copenhaga, nos pedem, atentos e dedicados ecologistas, que apaguemos a luz todos ao mesmo tempo no mundo inteiro. Surpreende que o façam, pela segunda vez, pessoas que tanto pensam no planeta. Porque o planeta tem países, como o nosso, onde há aglomerados urbanos, como o nosso, nos quais haver luz à noite é de agradecer a Deus. Aqui em Benguela, por exemplo, pelo menos no meu bairro e na minha rua, não há luz há quase 48 horas e, quando houve, iluminava as lâmpadas sem que as lâmpadas iluminassem fosse o que fosse. Via-se apenas aqueles risquinhos de luz dentro da lâmpada, uma luz mortiça e a escuridão ecológica à volta – antes de ela desaparecer totalmente com o barulho dos geradores. Que sensibilidade têm estes ecologistas para nos pedirem que, dando-se o milagre da luz, ainda a apaguemos por um tempo? Concordo com os que defendem que devemos acender aqui todos a luz a essa hora, ligando geradores, fazendo o mais possível por iluminar as nossas casas.
Os meninos bonitos da última esquerda europeia continuam com seus sonhos mimados a sonhar um planeta em nosso nome sem nos perguntarem nada. Mas amanhã, quando nos queixarmos de alguém ser preso, torturado ou morto no III Mundo virão dizer-nos que não devem ser eles a pronunciarem-se sobre o assunto, que não têm o direito de dizer às ditaduras do III Mundo o que devem fazer. Isto se não chamarem o Miguel Esteves Cardoso, que acordou há dias maldisposto com o José Eduardo Agualusa e outros 'queixinhas'. Claro, dizem-no bem acomodados em almofadas democráticas, em cafés onde podem falar em voz alta sem vir nenhum delator sentar-se à mesa do lado para ouvir tudo o que dizemos e até o que não dizemos. Mas querem que apaguemos a pouca luz que nos dão para fazermos um protestozinho todos juntos e aproveitarmos para beijar a namorada no escuro, para imaginar o que seria o mundo sem luz elétrica e outras pieguices. Ó maninhos, nós aqui já conhecemos isso muito bem…
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