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Átomos estéticos são também cognitivos

  “Quando vemos algo além de nossas expectativas, pedaços locais de tecido cerebral geram pequenos ‘átomos’ de afeto positivo. A combinação ...

05/11/2009

claude lévi-strauss josé manuel martins

Há pessoas que, pela maneira de estarem connosco e pelo tempo em que estão, deixam sempre um vazio, mais concretamente: um buraco, o da sua falta. O passamento de Claude Lévi-Strauss, porém, não foi só isso. Pedi a José Manuel Martins, professor de Filosofia na Universidade de Évora, autorização para transcrever as suas palavras acerca disso: "Lévi-Strauss estuda-se ao mesmo tempo como uma figura intemporal da Plêiade, como um pensador contemporâneo pertencente à época exactamente antes da nossa - e como uma figura e um nome históricos que inacreditavelmente ainda está vivo, e intelectualmente activo. Quando um homem assim morre, um homem que sobrevivia a si próprio teimosamente, e um homem cujo pensamento é como que uma espécie de amabilidade da palavra e do sentido devotada aos homens, à natureza, aos seres, a cada coisa (ele, o suposto estruturalista abstracto, mas que dizia: "un peu de structuralisme éloigne de la réalité, mais beaucoup y ramène"), o que se sente - o que eu sinto - é a perda de um pensamento amigo, de um pensador amigo, de uma presença viva e amical que ainda nos tutelava, sage, na sua grande idade, velando por um pensamento incrivelmente clássico e equilibrado que com ele, dos últimos, se nos perdia. Acompanhou alguns anos de curso da licenciatura de filosofia, simultaneamente como um autor no tempo e fora dele: plenamente estruturalista. Às vezes passo, em Cascais e em Lisboa, pelas casas que Eliade habitou. Nunca perdi a esperança de um dia fazer estruturalismo entre as obras divorciadas de um e de outro, duas escolas e duas europas que não se falavam, à semelhança dos índios da Colúmbia Britânica e da linhagem de Édipo e Laios, que só se encontram uns com os outros no célebre baralho de cartas com que a velha raposa jogava aos mitemas sem sair de Paris.

02/11/2009

releituras: dois aa e o sentido da poesia

Ao passar na velha livraria Lello de Benguela - que não é grande livraria, funciona mais como papelaria - comprei livros para reler, pois os exemplares que tenho estão neste momento longe. Dois deles me fizeram revisitar o que de melhor, ou menos pior, os autores empenhados dos anos 60 e 70 puderam fazer dentro dessa linha de engajamento da literatura. O primeiro, que vai sem dúvida muito para além disso (da literatura engajada), é O rio: estórias de regresso, de Arlindo Barbeitos. Pequenas estórias, de gente comum, que podíamos ter visto no quotidiano logo anterior e logo posterior à independência, que traçam no conjunto um quadro humano, antropológico e psicológico muito profundo, que era o da Angola de então. E que, só por si, teriam levado leitores apressados e preconceituosos a compreender melhor o seu próprio país e as estórias de que ele se foi fazendo. O segundo livro chama-se Poemas no tempo, de Arnaldo Santos. A secção com esse nome, dentro da obra, é a que mais reúne (principalmente no fim) poemas militantes. Não foi esse o momento melhor da poesia de Arnaldo Santos (como pela própria antologia se pode ver) mas, ainda assim, dá para perceber que um bom poeta não deixa de o ser por mais que seja má a escola literária que o condicione. Poderá deixar de produzir obras primas, mais profundas ou mais subtis, mas não deixa de ter o sentido da poesia. E o que, sobretudo, faltou naqueles anos do panfletarismo foi, precisamente, o sentido da poesia. Naqueles anos de panfletarismo em que se fazia fogo de artifício com palavras de ordem banalizadas, tal como hoje alguns poetas confundem lírica e verso com pirotecnia bizarra que, por uma via oposta, já não tem nada para dizer, esteticamente fal(h)ando. Isto leva-me ao corolário da conclusão anterior: um mau poeta, seja qual seja a sua escola literária, terá sempre a capacidade de estragá-la, de não a perceber, de a imitar sem o sentido da poesia.

pedra do sapato

27/10/2009

adelino torres fim de tarde

Adelino Torres continua a publicação da sua poesia. A segunda coletânea (Histórias do tempo volátil) chegou-me há poucos dias à mão, por gentileza do autor.

No geral contém as mesmas caraterísticas: um arco genológico variado, que vai da lírica pessoal à sátira voltada sobre os políticos e as asneiras do quotidiano em que nos envolvem num futuro duvidoso, passando pela reflexão filosófica moralizante. Os textos em geral curtos e incisivos convocam o leitor para um breve ensinamento (há provérbios em verso também na antologia), para quadros ou alusões de caráter narrativo e também para descrições lapidares. Essas descrições montam imagens visuais que, pelas suas caraterísticas e pela maneira como se nos apresentam, nos deixam em suspenso por um tempo, funcionando a visualidade como ferramenta ou mola da reflexão. É o caso de «fim de tarde»:

No horizonte as jovens nuvens dançavam

A dança da cabra cega

Em torno da grande fogueira

Cujo ardor enchia o céu

Pintado de azul profundo

Iluminando os olhos das crianças

Que brincavam descuidadas

Com a aparência do mundo.

26/10/2009

música urbana luandense

Com 1.ª ed. em 2007, veio a público o título O percurso histórico da música urbana luandense: subsídios para a história da música angolana, da autoria do luandense José Weza (José Cristóvão da Silva Júnior). Trata-se de uma obra incontornável para quem queira estudar o assunto. Remontando às origens do semba ou da massemba, com seguro apoio no crioulo Óscar Bento Ribas, vem até aos últimos anos, reunindo um conjunto de referências muito completo e variado. Vale a pena ler. Junto ao nome do autor, na ficha técnica, vem um número de telemóvel, certamente para quem deseje pedir e comprar exemplares: 00 244 912 912 282.