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lançamento da nova águia em évora
poesia de adelino torres - último verão
Chegou o estio a arrastar
o bafo quente da ira
em desespero de fogo
quando os espíritos do mal
passam rente ao sofrimento
num cosmos desordenado
que enlouquece a verdade
na confusão do sentido,
matando o perfume antigo
do musgo nos muros velhos
e a música que as ervas cantam
ao renascer de manhã
na planície da ausência
onde agoniza a saudade,
estrangulando em silêncio
o que ficou por dizer
por detrás da aparência
que esconde dissimulada
o ardil da violência,
e a palavra não dita
que se usou sem ser usada
deixando pelo caminho
o amargo sabor do nada...
poesia de adelino torres - tempo dos «ismos»
Chegou a nave dos loucos
que fundeou na baía
ondulando mil bandeiras
uma nova em cada dia
não tem mastro nem velame
tripulada por fantasmas
em tempo de assombração
almas mortas que mataram
a razão da rebeldia
e a vontade da razão
poesia de adelino torres - sobrevivência
Enganar a solidão
é viver uma segunda vida
numa passada dormente
à sombra da sombra escondida
do lado de lá da lua
a tentar matar a morte
sem perecer no caminho
de uma noite indiferente
como um cão agonizante
a uivar sozinho...
poesia de adelino torres - aforismo
ATREVIMENTO
É sempre sob a forma de um saber
que a ignorância vocifera.
poesia de adelino torres - extracto
Dos velhos alfarrábios saem vozes antigas
que sussurram pensamentos a moldar a vida
e percorrem estradas verticais até ao tecto
entoando músicas ausentes
que vibram em surdina como se não estivessem lá
de sentinela a guardar fronteiras incorpóreas
em castelos erguidos sobre nuvens com raízes
que mergulham no coração dos homens.
(do poema «Vozes»)