Publicação em destaque

Átomos estéticos são também cognitivos

  “Quando vemos algo além de nossas expectativas, pedaços locais de tecido cerebral geram pequenos ‘átomos’ de afeto positivo. A combinação ...

29/08/2023

E, porém, toca!

 


Distopia


Bem sei, olhando pra minha cara
tão evidente, que passei a noite
em cotovelos sob os olhos.
Em quanto, sobre o vinho perdido,
ainda inutilizando os sentidos,
abrias um bocejo de ressaca
e deitavas a cabeça no copo vazio.

Só eu vi desabrochares,
de mares submersos em noites agitadas,
extintos paraísos
com o rosto amargo do amor.


(flutuações e colagens com versos de Cecília Meireles)

 

28/08/2023

Havia uma janela,


mas não se via nada


 

Em concha

no tempo dos samurais


 

Friso. Delicadez antiga,


telúrica, primaveril, não propriamente o arabesco (esse é muito abstrato, platónico, de padrões extraídos por dedução das formas naturais. Atingem uma densidade simbólica muito elevada, mística também, mas perdem a graça da seiva, a frescura das folhas vivas, dos cachos de uvas ou de flores). 
Não, essa delicadeza antiga respeitava acima da forma a vida,
flutuante


(no título escrevi "delicadez" de propósito)


 

Mãe, é muito velho este senhor!


 

Quando os antigos pés ensombram


os ritmos da poesia coloquial


 

24/08/2023

20/08/2023

Essa palavra Graça,


assim com maiúscula e não sendo o nome 
da mais bela que passa, 
não tem mediação verbal: é a tangência imanente
de tudo quanto se ergue e faz sorrir.
Por isso é também o nome
da mais bela que passa.


 

Cais de não haver mar


O amor e o conhecimento não se dão sem uma abertura ao imprevisto, uma inocência infantil ainda. Nesse instante, as pessoas são como cais de não haver mar. O mar irrompe depois, a maré cheia alaga os neurónios da perceção. Quando voltamos a sentir um vazio, nem sabemos muito bem o que se passou. Tudo o que tentamos em seguida costuma ser só uma tentativa de explicar, ou de recuperar, ou de compreender intelectualmente o que, para acontecer, só foi possível em estado de infância e de virgindade ~


 

19/08/2023

Passaram reis coroados de couro -


o eco do corpo,
súbito pássaro
no próprio vento
por altas nuvens
silenciado



(brincadeira com versos dos poemas Metamorfose e Despedida, de Cecília Meireles, Viagem)

 

Ó náufragos da espera,


(sistemáticos caminhos,
o que anda fica longe)

 

18/08/2023

As mãos cheias de areia,

a voz gritando por nuvens


 

Se é possível ser e não-ser ao mesmo tempo,


talvez falemos do Espírito, uma espécie de sopro que percorre o universo e nós próprios, uma espécie de vibração que atravessa todas as dimensões e, portanto, está na matéria e na não-matéria, perpassa nelas ou também participa delas. Nesse caso, o Ser não é Ser e não-Ser, é só Ser. O que é o Espírito?


- muito abstrato, me dirias, em prosa dura. Mas como pode ser abstrato aquilo de que falamos sem nunca termos visto e nunca deixarmos de falar nisso? Como dizem na tua terra e sabem os índios: não há fumo sem fogo. Não lutes com a tua sombra. 

(excertos do Comgresso)


 

O poema do mar é contínuo,

multímodo, recorrente e imprevisto.


(clique sobre a imagem para ampliar)

 

13/08/2023

Gosto da tua janela



 

A explicação satisfatória

é aquela que nunca se separa do objeto. Miticamente, ficam tão ligados que a mais mínima palavra significaria quebraria, criaria diferença, vincaria separação do discurso relativamente ao seu foco.

Nesse caso, fiquemos em silêncio por um tempo