na morte de Alda do Espirito Santo
Os poetas não vão para o céu
eles já estão no céu
mortos para o plágio desta vida
como se ninguém mais soubesse
chamar as coisas pelos nomes
que sem querer os transformam
no prumo das portas ouvindo
cantigas de roda ao luar.
Os poetas não vão para o céu
eles já estão no céu
com seus olhos cegos abrindo
o novelo das palavras por dizer.
Por isso os poetas não morrem
se transformam simplesmente
no esplendor desse dia
que cresce entre as linhas da mão.
Montados no pégaso do universo
aparecem às vezes no umbral da via láctea
e a sua mão toca a dimensão do nada
para amealhar os cristais do movimento.
José Luis Mendonça, in 'Um Voo de Borboleta no Mecanismo Inerte do Tempo' (INALD, 2005)