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Átomos estéticos são também cognitivos

  “Quando vemos algo além de nossas expectativas, pedaços locais de tecido cerebral geram pequenos ‘átomos’ de afeto positivo. A combinação ...

20/09/2021

Duas ou três flores


se preferes, e com anáfora: 
2 ou 3 mortes
2 ou 3 brancas
2 ou 3 promessas
2 ou 3 lembranças
(e o mar lavando as folhas
do tempo, longo e gris,
na calva monarquia 
do sul)



 

19/09/2021

Espraia


de que onda sai tua voz
que ainda vem úmida e trêmula?




(Cecília Meireles, Canção da Vizinha. Não soaria melhor ela escrever "trêmula e úmida"?)

 

18/09/2021

Os Cossacos de Krasnoyark - ode para Igor Moiseyev


Naquele tempo, gostávamos de juntar as crianças na casa de Krasnoyarsk, nas margens do majestoso rio Yenissei, mesmo no Inverno, quando as pontes gelavam. As meninas da biblioteca traziam sorridentes livrinhos coloridos para ver ao fogo da lareira, pelas manhãs frias, ou no jardim, quando o calor já derreteu as neves e o sol abria os brilhos das ervas ao resplendor. Algumas vinham das montanhas vizinhas, do parque estadual de Stolby e os olhinhos vivos cintilavam por verem a cidade.

Pela tarde, as raparigas sentavam-se a cruzar os fios dos novelos e a conversar, amenas, enquanto as mais novas liam contos de fadas e tocavam inutilmente nos desenhos das pessoas como se fossem de carne e osso. Uma noite as levámos ao ballet e, por todo o tempo, não disseram uma única palavra, maravilhadas. 

Os meninos afastavam-se um pouco para ver os cavalos de Tatysh, ainda resfolegando as fúrias de kirguizes e kazaques. Ao fim do dia gostavam de assistir às danças de Godenko e de ver os mais velhos com bigodes esticados a fumar tabaco escuro no canto dos lábios, enquanto acompanhavam com palmas, excitados, as danças coloridas e rápidas dos pares a quererem também saltar o khorovod. Os olhinhos dos meninos guardavam tudo fascinados. Afinal, iriam ser futuros cossacos. 





17/09/2021

16/09/2021

Nas águas do lago

alegando o sol


palpita a sombra dos fundos
resíduos murmurantes
na mistura doce e salgada

 

13/09/2021

Fuga para o azul


entre os lenhos de água


O meu rosto de terra

ficará aqui mesmo

no mar ou no horizonte.


Ficará defronte

à casa onde morei.

Mas o meu rosto azul,

O meu rosto de viagem,

esse, irá pra onde irei.

(Cassiano Ricardo, começo do poema Fuga em Azul Menor)