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Átomos estéticos são também cognitivos

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24/01/2010

cartas de longe VI

Lento ocaso
Delicioso azul
Escurecendo
Entre as mãos de uma mulher

cartas de longe V

O azul do céu
Nosso azul
Isso queria
Cores vivas a pensar
O verde do planalto
A luz que anda no ar
Põe tudo isso numa carta
Para me acordar
Quando te disser que escureci
Nos ondulantes voos das gazelas

cartas de longe IV

Nada nos denuncie.
Deito os olhos no leito irregular
Das tuas cartas
Mas não ouço a música
Do sol brilhante.
Que os seus dedos amorteçam,
Não permitam a noite sem estrelas
E nos toquem, fraternos.

cartas de longe III

Continuaremos a jogar
A bola insensata
Entre nós e com pena
De não sermos nada.

cartas de longe II

Se pudesse receber
O teu ardor nos poros
Nossa esperança comum
Em verso ou prosa a estiolar,
Um coro africano daqueles fundos, antigos,
E um batuque melancólico
Para atroar a noite com silêncios
A falar-nos de uma, talvez, dor –
Outra palavra que não diz,
Letras mortas nesta carta…

cartas de longe I

Sucedo-me com os dias.
Peço-te o sol a nascer
E a tombar.
As cores vivas
Dos movimentos e das coisas
Que não conseguimos dizer
Nas letras mortas de uma carta.
Isso queria
Que me enviasses.

(Campinas, 1978)