Publicação em destaque

Átomos estéticos são também cognitivos

  “Quando vemos algo além de nossas expectativas, pedaços locais de tecido cerebral geram pequenos ‘átomos’ de afeto positivo. A combinação ...

09/10/2008

poema antigo

Tombam sóis nascentes. Cores vivas vislumbram Aquilos que não dizemos Na tinta seca das cartas. Presença de coros antigos Dos negros nas plantações E a tristeza melancólica Do batuque envolve a roda G i g a n t e. Lento ocaso, delicioso Eu-azul escurecendo Com as mãos de uma mulher. (Campinas, 1977 - para Márcia de Araújo Paiva)

08/10/2008

augusto bastos


Nasceu em Benguela a 16-09-1873, à uma hora da madrugada, filho (ilegítimo) de Manoel Thadeu Pereira Bastos, negociante natural de Cabeceiras de Bastos em Portugal, e da preta Lauriana, cuja ascendência não se conhece, cujo local de nascimento se não indica, e analfabeta. Alguns apontam, como data de nascimento, 16-08-1872 e a campa dá como data de nascimento 16-07-1874. Foi uma figura fundamental da vida benguelense até 10-04-1936, dia em que, pelas 22h, faleceu vítima de ataque cardíaco. Político, escritor, intelectual, compositor, pintor, negociante, funcionário público, chegou a corrigir os cálculos matemáticos de um Prémio Nobel da Matemática, o qual lhe agradeceu a correcção que, segundo ele (prémio nobel) se devia a uma gralha. Fez estudos liceais em Lisboa, tendo regressado a Benguela por falecimento do pai, para assegurar a sobrevivência da família. Foi vereador e presidente da Câmara Municipal de Benguela, tendo sido demitido compulsiva e ilegalmente pelo Governo-Geral. Foi vítima da vaga de prisões de 1917 contra os nativos de Angola. Foi o primeiro angolano a escrever uma narrativa policial, hoje desaparecida (As aventuras policiais do reporter Zimbro). Implantou na cidade de Benguela a obrigatoriedade dos exames de condução e beneficiou largamente a saúde pública, os espaços públicos e a cultura benguelense. O seu nome foi dado a uma rua central de Luanda (entre as Ingombotas, a Maianga e o Maculusso). Está sepultado no cemitério de Benguela, numa campa simples (foto acima).

07/10/2008

iolanda aldrei

"o espírito quase triste da inocência" (terra verde)

hieróglifos I

Tagarelar: falar com lagartos secos ao sol.

Tecelões em fila medindo e separando

Como caracóis nas pirâmides.

Tempestade: velas cheias e, no entanto,

Uma serpente em fumo evapora-se do cachimbo,

Do homem deitado sobre o deserto queimado com os pés erectos.

Santuários geométricos e próprias consequências: um tolo contempla

Um girassol já comido por três pássaros dispersos. O seu pensamento

É um escaravelho a deixar o lago seco. Torna-se um boi viril,

Cujos chifres têm na ponta duas mãos de árvore que olham o candeeiro

Que segura com elas o arco dos sinais luminosos. Um homem hieraticamente sentado reflectindo sobre o arco, os sinais luminosos, o candeeiro, os braços esticados. Um precioso portador de selos. Espeta o arco entre si e o lago. Volta-lhes as costas e olha agora para perto de nós. Sentimos-lhe o bafo morno. Põe as mãos em concha e sopra uma folha, a coluna vertebral do pássaro miraculoso que te estende a mão.

Uma abóboda com pés desenha um rectângulo sobre o óvulo vazio.

04/10/2008

bater de asas


~bater de asas~
Teclado fino das caudas
Disseminadas no tempo.
Asas nocturnas
Com medo coagulado
À beira da perfeição.
Sobre si próprio, banzando
-se, das ausências imensas.
Voo picado
No ventre curvo da origem
Macho exaltado com virgem
Por dentro, oculta.
Pauta de pasto em máscara,
Asa, vislumbre de pássaro.