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24/01/2010

cartas de longe IV

Nada nos denuncie.
Deito os olhos no leito irregular
Das tuas cartas
Mas não ouço a música
Do sol brilhante.
Que os seus dedos amorteçam,
Não permitam a noite sem estrelas
E nos toquem, fraternos.

cartas de longe III

Continuaremos a jogar
A bola insensata
Entre nós e com pena
De não sermos nada.

cartas de longe II

Se pudesse receber
O teu ardor nos poros
Nossa esperança comum
Em verso ou prosa a estiolar,
Um coro africano daqueles fundos, antigos,
E um batuque melancólico
Para atroar a noite com silêncios
A falar-nos de uma, talvez, dor –
Outra palavra que não diz,
Letras mortas nesta carta…

cartas de longe I

Sucedo-me com os dias.
Peço-te o sol a nascer
E a tombar.
As cores vivas
Dos movimentos e das coisas
Que não conseguimos dizer
Nas letras mortas de uma carta.
Isso queria
Que me enviasses.

(Campinas, 1978)