O constitucionalista Adérito Correia acha normal que, antes da eleição para a Presidência, seja mudada a Constituição do país. A 'normalidade' vem de não se poder eleger o Presidente com um figurino e depois, logo a seguir, mudar esse figurino. A. C. diz que há legitimidade igual em ele ser eleito pelo parlamento ou directamente (lembro-me da campanha das 'directas já' no Brasil, uma bandeira do fim da ditadura militar). Tudo bem. Também concordo com o modelo presidencial e acho que o eleito será o mesmo, mas não é o mesmo ser eleito por sufrágio directo ou num parlamento onde o partido maioritário detém 81 vírgula tal por cento. Se os deputados disputam a eleição directa, o Presidente deve fazê-lo também - até para sabermos que percentagem da população se arrependeu já do voto no MPLA e para darmos lugar à diversidade na escolha.
O problema está nisto: se não é correcto eleger um presidente e logo a seguir mudar a Constituição, será correcto eleger um parlamento sem avisar a população de que a nova assembleia se destina a mudar a Constituição? Será correcto, em função das legislativas (que não foram constituintes), escolher e nomear um governo que, antes de um ano, terá de ser reformulado para o novo figurino presidencialista?
Não nos esqueçamos do mote da campanha: servir o povo melhor, fazer as coisas funcionar, incrementar o desenvolvimento e os projectos sociais. Para convencer o povo se asfaltaram as ruas à pressa, se deu aquela aparência de que íamos caminhar a passos largos para uma superior qualidade de vida. Mas ninguém nos disse que, afinal, logo a seguir, iam mudar a Constituição em aspectos tão fundamentais quanto a eleição do presidente e o cariz do regime (presidencialista, parlamentar ou semi-presidencial como é agora).
Isto é o que se pode chamar um golpe de estado 'jurídico'.
Publicação em destaque
Átomos estéticos são também cognitivos
“Quando vemos algo além de nossas expectativas, pedaços locais de tecido cerebral geram pequenos ‘átomos’ de afeto positivo. A combinação ...
03/12/2008
02/12/2008
multipress - angonotícias
O Partido de Renovação Social (PRS) acusa o partido no poder, MPLA, de estar a perseguir os seus membros com actos de intimidações, aliciamento e chantagem com finalidade de estrangular as acções desta força política.
Estas acções, segundo adiantou o secretário executivo do partido Joaquim Nafoia, têm sido registadas com frequência na província da Lunda-Norte, região em que esta força política na oposição ostenta grande popularidade.
30/11/2008
a disa e a nova ditadura cultural
Como lembra o Novo Jornal na sua edição desta semana, a DISA (Direcção de Informação e Segurança de Angola) foi criada a 28-11-1975 - "17 dias depois da proclamação da independência). Isso mostra, para quem tivesse dúvidas, que o projecto do MPLA (na figura dos seus dirigentes) era desde sempre o de uma ditadura. E foi o que foi...
A semana passada a projecção do filme Cuba: uma odisseia angolana estava marcada para a Universidade Lusíada. Argumentando-se com razões técnicas (às quais os políticos e ditadores devem uma estátua do tamanho do mundo), o filme não passou. Note-se que o filme apresenta uma versão dos acontecimentos (a invasão cubana de Angola) que não coincide com a oficial. A nova ministra da cultura desfez-se num chocante mar de contradições, ameaças e assunção velada de que estamos novamente perante uma ditadura no campo, precisamente, da Cultura.
Interpelada sobre o acontecimento disse que "o documentário nunca esteve programado, nem nunca fez parte da selecção oficial do festival" - o que o director, Miguel Hurst, contradiz e, de resto, não era difícil supor que a Ministra tivesse visto algum programa público do Festival, onde o filme era anunciado para o mesmo dia, hora e local e que circulou por todo o lado.
O director do festival de cinema de Luanda, que está a começar a dar ao cinema em Angola o espaço que ele e o país merecem, insiste nas razões técnicas. A ministra insiste em que ele terá que "justificar" porque não há menção ao documentário em nenhum dos papéis em sua posse. Aqui está a ameaça. Sabemos o que significa isso e não nos admira que se demita, ou que a ministra demita, quem protagonizou esta iniciativa tão rara entre nós. Miguel Hurst, provavelmente, vai ter de explicar também porque é que a ministra não viu nenhum dos programas que todos os angolanos interessados no assunto viram várias vezes em vários lados e por vários meios... Lembremo-nos de que a película, não só está no programa como também concorre a um prémio na categoria «melhor documentário». É preciso dizer mais?
É. Porque a ministra denuncia-se também, afirmando categoricamente que, "pelas suas características" e "erros históricos", "esse filme NUNCA VAI SER POSTO A CIRCULAR". Para não nos assustarmos consegue juntar uma afirmação dessas ao seu desmentido: "isto não é uma censura", é só "uma forma de contrariar versões erradas da História". Pelo contrário, segundo a ministra, trata-se de uma questão de liberdade: "temos que ter o direito a aceitar essa visão ou não". Mas como podemos exercê-lo sem ver o documentário? Então ela esclarece: "não há intenção de retirar aos angolanos a possibilidade de assistir ao documentário". Como? Se ela mesma diz que não deixará circular o documentário, como podemos vê-lo? A liberdade é só a sua, de nos proibir o acesso à informação e à livre discussão cultural.
Desconfiei deste ministério da cultura desde a sua nomeação. Achei sempre que, por trás desta ministra e de um dos seus vice-ministros havia um projecto, bem guardado, bem escondido, de instauração de uma ditadura no campo cultural. A primeira prova acaba de chegar. E o seu vice-ministro cala-se. Por enquanto vai deixando que ela se queime sozinha...
governador
Para quem se interessa por notícias de Benguela: o novo governador anda de município em município a tomar o pulso à situação. O homem tem pelo menos um plano para a província, privilegiando a regularização e generalização do fornecimento de energia eléctrica e a educação. Não parece mau. Suscita, porém, algumas dúvidas a manutenção de toda a equipa do governador anterior. A decisão foi justificada com inteligência: sem ver o trabalho deles e o resultado desse trabalho não sei o que valem. Talvez o que eles fizeram esteja à vista e, portanto, acredito que por qualquer outro motivo (estratégico, ou mesmo por não ter equipa local de absoluta confiança), o governador preferiu esta saída. Reservou assim para si argumentos quer para manter, quer para afastar. Pelo menos está a jogar bem.
Subscrever:
Mensagens (Atom)