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Átomos estéticos são também cognitivos

  “Quando vemos algo além de nossas expectativas, pedaços locais de tecido cerebral geram pequenos ‘átomos’ de afeto positivo. A combinação ...

08/09/2025

A igreja de São Pedro em Rio Grande e a igreja do Pópulo em Benguela







A chamada catedral de São Pedro é uma igreja simples, não muito grande nem muito rica por dentro, que está virada de costas para a praia onde primeiro desembarcavam os navios. Nas suas costas foi feita, cerca de 30 anos mais tarde, a capela de São Francisco de Assis. A catedral foi feita no lugar de uma outra igreja, de construção precária, embora fosse elevada a Matriz em 1747. Ao lado ficava um armazém de pólvora que, atingido por um raio, em 1750, deu origem ao incêndio que inutilizou a precária matriz. 

A igreja do Pópulo em Benguela foi também construída sobre edificação precária, cerca de 130 anos após a fundação da cidade, em terrenos pantanosos pouco acima dos quais havia já pequenos núcleos populacionais. Sobre a porta principal está a pedra em que se pintou e gravou uma inscrição assinalando que foi o capitão de infantaria Roque Vieira de Lima, segundo desse nome, nascido em Luanda de pai homónimo e de Ângela Fernandes, quem a mandou fazer (a placa diz que ele a fez) em 1748. O pai consta na História geral das guerras angolanas, de António de Oliveira de Cadornega, concluída já no fim do século XVII e ambos atingiram o posto de capitão, nessa altura muito mais importante na hierarquia militar da colónia do que hoje. Roque Vieira de Lima (filho) recebeu Carta patente de capitão dos auxiliares do Presídio de Benguela a 12.7.1729, conforme documento do Arquivo Histórico de Angola (códice 300-C-20-1). 

As duas igrejas foram únicas no respetivo paralelo e na sua zona. São as duas barrocas, do barroco tardio português, com planta simples, singela, típica de certas igrejas de província em Portugal. No seu lugar, cada uma delas responde à época, sobretudo às disputas coloniais entre Portugal e Espanha, que levaram ao tratado de Madrid (1750) e subsequentes, todos motivados por ambições territoriais e procura de controlo sobre portos de embarque de escravos e de outros produtos com menos valor (os escravos eram valorizados em dinheiro, como produtos ou bens de troca, de comércio, com preços oscilantes mas ainda assim definidos). Esse Tratado não dividiu só as fronteiras entre Portugal e Espanha, ele envolvia-se numa disputa mais vasta que veio a tocar a costa africana com o Tratado de Santo Ildefonso (1777), ratificado pelo Tratado de El Pardo em 1778. Segundo esses acordos, Portugal cedia à Espanha as ilhas de Fernando Pó (hoje Bioko) e Ano Bom, que fazem parte de um arquipélago onde se incluem, geograficamente, as de São Tomé e do Príncipe (vejam num mapa), bem como uma parte da costa. Esses territórios formaram basicamente o que é hoje a Guiné Equatorial, Estado-membro da CPLP. 

A disputa em torno do Rio Grande de São Pedro até o que hoje é o Uruguai, junto à Argentina, definiu-se pelo Tratado de Madri e a futura cidade de Rio Grande foi ocupada por espanhóis e portugueses em breves escaramuças em torno desses anos. Na sequência do Tratado, o governador do Rio de Janeiro, Gomes Freire de Andrade, foi à zona de Rio Grande para marcar os limites determinados. Vendo o estado em que se encontrava a igreja, resolveu-se a edificar o novo templo, cujo projeto é de outro Vieira, Manuel Vieira Leão, ajudante de artilharia servindo de engenheiro. O projeto da igreja do Pópulo, em Benguela, é de autor ignorado até hoje. 


Casco antigo


 

04/09/2025

rasto vago


 

Inestimável


sentido por dentro, por fora coisa simples, mas quando entra na teia de relações entre signos, dos quais nos aproximamos por simpatia, por intuição, depois em gnose, resulta valioso tanto quanto o peso de ouro nas eras das moedas conturbadas.

 

Agustinha Bessa-Luís, a portuguesa


Ela olhava Portugal como um cadinho onde, com muito realismo, havia um núcleo de jardim florido e cuidado, ao estilo romântico, entre as árvores altas do bosque na colina.

"

O Português

Prefere ser um rico desconhecido, a ser um herói pobre. É melhor do que parece. O homem português é dissimulado, e fez da inveja um discurso do bom senso e dos direitos humanos.

Mas é também um homem de paixões moderadas pela sensibilidade, o que faz dele um grande civilizado.

Gosta das mulheres, o que explica o estado de dependência em que as pretende manter. A dependência é uma motivação erótica.
É inovador mas tem pouco carácter, como é próprio dos superiormente inteligentes, tanto cientistas, como filósofos e criadores em geral.

Mente muito, e a verdade que se arroga é uma culpa inibida. Vemos que ele se mantém num estado primitivo quando defende a sua área de partido, de seita e de família, à custa de corrupções e de crimes, se for preciso.

Gosta do poder mas não da notoriedade. Não tem o sentido da eternidade, mas sim o prazer da liberdade imediata. Não é democrata; excepto se isso intimidar os seus adversários.

Não tem génio, tem habilidade.

É imaginativo mas não pensador.

É culto mas não experiente.

Não gosta da lei, porque ela desvaloriza a sua própria iniciativa. É místico com a fábula e viril com a desgraça.

Admira mais a Deus do que tem fé Nele.

"

(Caderno de significados. Lisboa: Guimarães, 2013. Esgotado)