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30/03/2009

tomás jorge tu és a verdade

Tu és a verdade

Torne e não se acabe

O que bem te cabe

No que te arde

Neste voar de ave

A ciciar desejos

Espero-te a cantar

Do que se sabe

Com palavras de beijos

Respirar na brisa

Nos dedos do vento

Sinto a tua carícia

Ainda longe pressinto

Que vens suave

Peço que não tardes

Torne e não se acabe

Vem no que te cabe

No teu voo de ave

Tu és a verdade

(Colóquio-Letras, n.º 87, Lisboa, FCG, Setembro 1985, p. 56)

tomás jorge vieira da cruz, lisboa, março 2009

tomás jorge

Poeta, nacionalista, militante original e desengajado, com preocupações filosóficas próprias (com o tempo, a memória, o cosmos, o sentido da vida, os átomos, o ser, particularmente o ser humano), uma voz potente e bem educada, amigo, brincalhão e emotivo, bom declamador, amando Angola até ao âmago, assim foi Tomás Jorge Vieira da Cruz. Está a morrer ("o meu caminho chegou ao fim"), no Hospital de Santa Maria, com cancro e sem dinheiro. Hoje passou uma mulher por aqui a vender gajajas. Lembrei-me dele:

GAJAJA

Fruto pálido, empaludado… Cereja dos trópicos de cor desmaiada. Luanda: - onde estão as tuas gajajeiras que a troco dos seus frutos pedradas eu lançava, pedradas que magoavam - pedradas de criança! Por certo que foram destroçadas, sepultadas em teus alicerces da Brito Godins e de todas as Ingombotas, tal como os frondosos cajueiros. Vi hoje uma gajajeira já quase morta. Havia pedras a seu lado, areia e cimento e um buraco longo, rodopiando, fazendo quadrados, rectângulos, quadrados… Se a minha fortuna não fosse feita de sonhos, compraria aquele terreno. A copa da gajajeira seria o meu chapéu, a umbela dos dias quentes e das noites de luar e de cacimbo. Luanda: - onde é que estão as nossas gajajeiras? Essas gajajeiras que me davam as gajajas da minha infância os frutos da minha vadiagem! Eu atirei pedradas! Mas tu, Luanda, o que fizeste delas?

Procurar: Areal: poemas, 1961 Talamungongo... olha o mundo!, Luanda, Kilombelombe, 2005