"Poeta de palavra rara e verbo arqueológico, Francisco Soares oferece-nos neste novo livro duas recolhas em tudo singulares.
Em As Trevas e os Dyas respira-se uma atmosfera de aroma teogónico, em que perpassam temas como a noite primordial, a luz do princípio, a primeva sombra, o silêncio anteprimeiro, o tempo imemorial, mas também a terra e o fogo, o corpo e a nudez, os favos de mel, os lagos e o sonho, a alma e o silogismo imaterial do amor.
Em Sonetos Místicos Assituados, por seu lado, deparamos com um conjunto de sonetos de uma perfeição formal como hoje raramente encontramos na poesia portuguesa. Nestes textos, é mística sobretudo a dinâmica de rel[lig]ação do sujeito com as profundezas do inter-locutor interno, que se cruza com o Outro supremo — ora na prece, ora numa certa forma de contemplação da vida a partir do recesso primordial da existência.
Este é um livro que solicita uma leitura detida, quase ruminada, digerida num centrado recolhimento que, só ele, confere acesso ao espírito que paira e poisa, aqui e ali, inefável mas intensamente, por entre as trevas que nos visitam e a luz dos dias que, entre a pertença e o retorno, edificam em nós a liberdade intacta e um destino maior.
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O AUTOR
A vida é uma ficção. Qualquer nota biográfica a resume. Francisco Soares nasceu em Lisboa e em Benguela. Cresceu, formou-se e viveu no triângulo luso-falante do Atlântico. A poesia deste livro, como dos anteriores, interage com tais vivências, fluidas, indefinidas, radicadas e alentadas para o que mais importa. Escrita primeiro ao longo da década de 1980, continua longas e frutíferas conversas sobre a Arte Antiga, tidas com peregrinos ainda hoje no caminho e um que partiu para mais longe. Sem nomes, pese embora a caligrafia que também dá sinal dos meus ritmos.
Os outros títulos de poesia publicados foram:
Disperso & Vário (Lisboa, Edições Átrio, 1993)
Fábula da captação do elemento desvairado (Lisboa, Edições Átrio, 1995)
Restauração (Mafra, Edições Sem Nome, 2020)"