Adelino Torres continua a publicação da sua poesia. A segunda coletânea (Histórias do tempo volátil) chegou-me há poucos dias à mão, por gentileza do autor.
No geral contém as mesmas caraterísticas: um arco genológico variado, que vai da lírica pessoal à sátira voltada sobre os políticos e as asneiras do quotidiano em que nos envolvem num futuro duvidoso, passando pela reflexão filosófica moralizante. Os textos em geral curtos e incisivos convocam o leitor para um breve ensinamento (há provérbios em verso também na antologia), para quadros ou alusões de caráter narrativo e também para descrições lapidares. Essas descrições montam imagens visuais que, pelas suas caraterísticas e pela maneira como se nos apresentam, nos deixam em suspenso por um tempo, funcionando a visualidade como ferramenta ou mola da reflexão. É o caso de «fim de tarde»:
No horizonte as jovens nuvens dançavam
A dança da cabra cega
Em torno da grande fogueira
Cujo ardor enchia o céu
Pintado de azul profundo
Iluminando os olhos das crianças
Que brincavam descuidadas
Com a aparência do mundo.