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Átomos estéticos são também cognitivos

  “Quando vemos algo além de nossas expectativas, pedaços locais de tecido cerebral geram pequenos ‘átomos’ de afeto positivo. A combinação ...

21/09/2008

o instante


Só um instante
Nos magoava.
Um rigoroso instante.
Nos pomares de maçãs
O rumo da caravela
Distante – vermelho o mar
A debruar
Os lábios e o estrume
Da chuva.
(teia de luz a penumbra,
suspensa da estória de um abismo;
o que nos une é aquilo que se
para)
Entre nós há frutos que tombam
Para cobrir o chão de noite.
Para calarem sobre lagos
Encantados o sal das pedras,
Noivas de nuvens e com dote.
Para que a sede nos devolva
A água;
Para selar os ecos onde vem o vento
(adulterino, o que não espanta)
Desdizer o desenho do passado; para
Pastar a paz antiga, húmida,
Sobre o solo diurno e indefinido.
Um instante, só,
Nos separava.
E era a eternidade.
(entre tanto, no chão,
A tua sombra calma respirava)

iolanda aldrei

Ainda que seja longe a luz,
ainda que a dor saiba dos desejos,
ainda que na alva
continue o nome
e a memória,
e o amor brilhe
entre as trevas,
ainda...

20/09/2008

o escritor profundo seria mudo

Poderíamos admitir que o escritor verdadeiramente «profundo» fosse afinal aquele que não escrevesse. E que não escrevesse devido justamente ao seu sentido agudo da profundeza, que lhe faz sentir o miserável desnível que há sempre entre aquilo que se escreve e a infinita complexidade de todas as coisas deste mundo (José Bacelar) - a da própria linguagem relacional e imaginal, anterior a toda a escrita, podíamos acrescentar. Pois nela tudo liga a tudo, as implicações desmultiplicam-se e não há linguagem verbal tão poderosa que, sofrendo disso, exprima e ultrapasse isso.

16/09/2008

yosa buson (Japão)

Para aquele que parte Para aquele que fica - dois Outonos

estranha continuação

A imprensa oficial de Angola, muito em particular o Jornal de Angola, continua uma linha editorial parcial relativamente ao principal partido de oposição. No último jornal de Domingo, as notícias sobre a UNITA, duas das quais estão praticamente repetidas num curto espaço de 3 páginas, as notícias sobre a UNITA são, em 90%, contra a UNITA (há apenas uma notícia isenta, curta, nem contra nem a favor), destacando figuras que se tornaram dissidentes e apelaram ao voto no partido maioritário. Se o principal partido de oposição perdeu as eleições ficando só com 10% dos votos, que necessidade tem o Jornal de Angola de continuar a destacar a dissidência da UNITA e a publicar notícias contra a UNITA mais do que neutras ou favoráveis? Isso leva-me a pensar que talvez as acusações de que o MPLA tem o projecto de voltar ao monopartidarismo não sejam infundadas. Não o fará instaurando um regime monopartidário mas sim, sob uma aparência de liberdade, tornando apenas possível a um partido o acesso ao poder. O mandato eleitoral não foi, porém, para isso, foi para continuarem com as obras num sistema livre económica e politicamente.