...como se da mesma linha luminosa no horizonte se espalhassem as nuvens no céu e as casas na terra numa imperfeita simetria...
“Quando vemos algo além de nossas expectativas, pedaços locais de tecido cerebral geram pequenos ‘átomos’ de afeto positivo. A combinação ...
...como se da mesma linha luminosa no horizonte se espalhassem as nuvens no céu e as casas na terra numa imperfeita simetria...
Sabemos que o poeta pode mexer nas palavras com mais liberdade. É-lhe reconhecido esse direito. A sua função acutilante, decisiva, então, não é a de contribuir pessoalmente para o processo político, mas a de testar artisticamente as condições do diálogo pelo uso inovador das palavras e das conexões entre elas.
A aba do chapéu, o regaço, as fraldas do vestido tomadas na cintura a fazerem regaço, viriam, segundo D. Francisco de S. Luiz, do hebraico hhobah, cujo significado era ‘acolher, proteger, dar abrigo’. Mas o autor carrega muito nos [h] e puxa o que pode para o hebraico[1].
O Dic. Aurélio fala no ár. Ab*, que designava um
manto ou capote de lã grosseira, usado por árabes e persas. Realmente o capote
seria acolhedor, protegeria do frio e abrigaria da noite.
Mas aba inclui também, no seu campo semântico, as
fraldas ou faldas dos montes, a orla das praias, a margem, a costa, as abas dos
rios, os arredores, em torno de[2]...
Resumidamente, o que envolve está na margem.
[1]
Glossário de Vocábulos Portugueses derivados das línguas orientais e
africanas, excepto a árabe, Lisboa, 1837, p. 1 (obra publicada com o
patrocínio da Academia das Ciências e impressa na sua tipografia).
[2]
Roquette, J. -I. e Fonseca, J. da, Dicionário Poético e de Epithetos,
Paris; Lisboa, Guillard, Aillaud & Cia, sd, p. 1.
Mas como vou dizer, nesse jogo de acasos, a pequena aldeia de conchas, os seus círculos envolventes, assim como palavras acenando e, no aceno arrastando, consigo, não um campo mas um cosmos, não semântico, de extensões indetermináveis?
"Tantas galáxias jogadas sobre nós"
(Paul Celan)
Uma janela aberta para os olhos é uma promessa. Dentro, o quarto escuro resguardado pelos vidros é uma cela de silêncio, uma patologia. Ou uma promessa de desapego e, lá fora, o aceno do universo torna-se a miragem distante, um condicionamento vulgar.