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Átomos estéticos são também cognitivos

  “Quando vemos algo além de nossas expectativas, pedaços locais de tecido cerebral geram pequenos ‘átomos’ de afeto positivo. A combinação ...

24/08/2009

luanda cultural

Luanda está, culturalmente, cada vez mais agitada. É um crescendum contínuo mas que tem, nos últimos anos, aumentado também qualitativamente. Claro que há muitas iniciativas insignificantes, outras até mesmo ridículas, o que é normal, onde há muita coisa também há muita tralha. Mas surgem cada vez mais iniciativas interessantes. A Feira do Livro e do Disco, que não teve hoje a sua 1.ª edição, é uma delas - ainda que se tenham notado (não sei porquê) as faltas de editoras ou livrarias como a Chá de Caxinde, a Lello, a Mensagem e outras que não recordo de momento. Os alfarrabistas tinham livros que fazem falta (e outros que não, claro), mas a preços exorbitantes. Um exemplo: a Formação da literatura angolana, do M. António, a 7500 Kwanzas (um exemplar, aliás, maltratado). Se, como sugeriu a governadora de Luanda numa intervenção apropriada e agradável, espalharem pelas periferias urbanas atividades destas (com livros a preços mais próximos do bolso dos consumidores do subúrbio), sem dúvida será um grande passo no sentido da requalificação dos angolanos. Iniciativa de grande peso será, sem dúvida, a de criar a Fundação Uanhenga Xitu que, pelo perfil público do escritor e conforme os fundos de que disfrute, pode intervir em campos tão diversos quanto os da sociologia, antropologia, saúde, literatura, cultura... Para já, as palestras pelo seu aniversário, na próxima 4.ª F.ª, parecem-me um bom indício, reunindo um bom leque de colaboradores (naturalmente, nem todos iguais...). É pena que, nas províncias, muito raramente tenhamos algo parecido. Mas a culpa é também nossa.

rosto

debate

luanda sul

cronologia literária angolana

Umas das conferências mais sérias do Encontro internacional sobre Óscar Ribas foi a do Prof. António Costa. Ele é hoje mais conhecido em Angola pelo seu trabalho ensaístico, docente e jornalístico no âmbito da linguística. Mas eu conheço-lhe, felizmente, essa veia crítica desde que, no início dos anos 90, trocámos em Braga algumas impressões sobre literatura angolana e, em particular, sobre Castro Soromenho. Propõe António Costa na sua conferência "três segmentos historiográficos" englobantes do percurso diacrónico da nossa literatura: 1 - desde o início da formação de uma literatura em Angola até à geração da Mensagem; 2 - desde a geração da Mensagem até aos anos 80; 3 - dos anos 80 em diante. Há muito que penso assim mas não tinha nunca formulado, com tal clareza, o meu pensamento. Podem chover críticas, por exemplo dizendo que há um período muito longo e, depois, dois muito curtos. Mas a História não é simétrica. Para além disso, o último período não sabemos quanto vai durar, portanto não sabemos se é curto. O do meio é incontornável: é nele que o escritor e o seu público pensam conscientemente na mudança de paradigma estético e, sobretudo, político. É nesse momento que a angolanidade da literatura se torna uma exigência e a sua construção obrigatória. Após esse momento, breve, de fixação identitária começam os nossos escritores a deslocar-se para fora do circuito estreito do neo-realismo e, com isso, a superar os paradigmas estéticos da Mensagem. Mas só a partir dos anos 80 (A. Costa exemplifica com a publicação de Mayombe, uma obra de charneira sem dúvida, mas há várias outras, de autores revelados nos anos 60 - finais, sobretudo - e 70), só a partir dos anos 80 a literatura angolana fica livre dos paradigmas estéticos da Mensagem. Não se sustentem equívocos: fica livre; deixa de sentir-se obrigada a segui-los (é tão livre de segui-los quanto de não o fazer e geralmente não o faz). A partir daí é de facto outra a nossa história literária: a da disseminação e dispersão, da deriva em busca de novos rumos, encontrando-os, explorando-os, apropriando e transformando localmente novos paradigmas e novos conhecimentos técnicos. Com essa cronografia António Costa vem a situar perfeitamente a obra de Óscar Ribas dentro do que foram os seus paradigmas estéticos e culturais, do seu tempo e do seu lugar. Outras comunicações completaram o quadro, por exemplo referindo a cultura científica e a ligação entre etnografia e positivismo (para além da ligação com o romantismo de que muito bem fala A. Costa). Mas acho que esta se torna, a par de outras sem dúvida, uma referência básica para os estudantes de literatura angolana. Que somos todos.

22/08/2009

cópia de informação da pide sobre viriato da cruz e o mpla

A cópia foi tirada por Edmundo Rocha. Reparem como só nos princípios de 1960 é mencionado o MPLA. Em outras informações dos anos 50 nunca se menciona o MPLA. Deve ter, portanto, sido criado no princípio desse ano.

a criação do mpla

Um dos grandes atrativos do MPLA é o de não se saber ao certo, nem o que é, nem o que vai ser, nem sequer quando foi criado. Mas tornou-se consensual, por investigações e testemunhos e confissões, que não foi criado em 1956. Um Prémio nacional de cultura e artes relativamente recente, Edmundo Rocha, confirmou-o e tinha vivido os acontecimentos o suficiente e investigado o suficiente para afirmar isso. Corrigiu alguns exageros ou alguma precipitação de Carlos Pacheco, o primeiro a investigar frontalmente o grande mito da criação do MPLA em 1956. Lembro-me de há uns anos, finais dos 9o talvez, ouvir Beli Belô a confessar publicamente, no Museu República e Resistência, em Lisboa, que o MPLA não tinha sido criado em 1956. Viriato fez nesse ano um manifesto que foi servindo várias iniciativas de nacionalistas urbanos (sobretudo luandenses) e veio a ser a base do manifesto do MPLA. O Dr. Edmundo Rocha coordenou, com um insignificante apoio da minha parte, um livro sobre Viriato da Cruz, distribuído em Luanda pela Chá de Caxinde, em que justamente comprova tudo, em que republica cópia integral do manifesto de 1956, que eu vi com os meus olhos. Está lá no livro e em momento algum se fala no MPLA, usa-se sim uma frase, na qual se diz que é necessário um amplo movimento popular para a libertação de Angola, ou algo muito parecido. Como o Manifesto de 56 foi o guia de toda essa geração nacionalista urbana e acabou sendo o guia do próprio MPLA durante muitos anos (ainda podia ser hoje...), acabaram aproveitando a frase, que exprimia as ânsias dos nacionalistas de esquerda, para criar a sigla - o que acho muito provável. E, precisando de uma sigla para se fazerem representar, frente à UPA/FNLA, Mário Pinto de Andrade e seus amigos criaram o MPLA e começaram a assinar comunicados em nome do 'amplo movimento' - na altura constituído por um grupo restrito. No entanto, em Angola, Rosa Cruz e Silva chefiou uma equipa que (re)escreveu a estória do MPLA, oficial. Ficou muito bonita graficamente. Em Benguela distribuíram-na como quem desse um presente raro. Raro e valioso. Foi dado a pessoas distintas no poder e no partido. Todos se orgulhavam de a ter em casa e, de forma geral, a não lêem. Fazem bem, porque está cheia de imprecisões, lacunas ou mesmo mentiras. Apesar de todos estes dados e de não haver grande prejuízo em assumir a verdade, a formosa historiadora fez com que se mantivesse uma antiga 'verdade' oficial, a da criação do Partido em 1956 - coisa em que já ninguém acredita. Na 6.ª F.ª passada foi à homenagem a Mário Pinto de Andrade feita na Universidade Lusíada de Angola. E reafirmou tudo apesar das evidências em contrário. O público (maioritariamente estudantil) ficou estupefacto, percebendo que não podia confiar na sua ministra. Eu confesso que não me admirei muito.