O Ministério da Família e da Promoção da Mulher promoveu um estudo que chegou à conclusão de que "parte das famílias angolanas vive de restos". O estudo parece que se resumiu aos frequentadores do Roque Santeiro, e é pena. Mas o próprio Ministério reconhecer o problema, ainda que metonimicamente, é já um avanço. Pode ser que agora, e com as pressões que tem havido no sentido de democratizar os benefícios do desenvolvimento, pode ser que o governo tome decisões e as concretize para minorar a fome no país.
Segunda notícia: o político oposicionista Carlos Leitão partirá para o Brasil (São Paulo) para se tratar. A prisão ficou, por agora, ultrapassada. Por seu turno a UNITA demonstrou uma solidariedade pública e efectiva a Carlos Leitão - a oposição começa a acordar?
Terceira notícia: vai finalmente começar a recuperação do Aeroporto 4 de Fevereiro em Luanda e vão recomeçar também as obras do novo aeroporto, a 40 km da capital. As empresas envolvidas são a Somague (Portugal) e a Odebrecht (Brasil)...
Publicação em destaque
Átomos estéticos são também cognitivos
“Quando vemos algo além de nossas expectativas, pedaços locais de tecido cerebral geram pequenos ‘átomos’ de afeto positivo. A combinação ...
21/12/2008
20/12/2008
o conspirador
Uma excelente surpresa o livro de Jaime Nogueira Pinto, Jogos Africanos. Por muitos motivos: em primeiro lugar a narração vai seguindo a par de referências literárias e cinematográficas enquanto nos conta episódios e peripécias como se fossem parte de um filme de espionagem ou coisa parecida. É coincidente com a actuação do autor-protagonista esta encenação constante, para além disso cria suspense e aumenta a adesão do leitor, a concentração na leitura. Ainda neste campo (da arte literária) o discurso é escorreito, fluente, próprio de um bom conversador.
Não sei se por causa da percepção tipo filme de espionagem, por vezes são-nos dados pormenores que é estranho estarem ali, como por exemplo quando se diz a escada, mais ou menos os degraus, se depois se virou à esquerda ou à direita, quantas portas se passou até entrar no gabinete, a descrição pormenorizada do gabinete e da posição em que nos recebem, etc. Isso contribui para o fílmico do livro mas parece também contribuir para a verossimilhança, para nos provar que realmente o autor esteve ali, que nos está a contar a verdade.
Surpreende também agradavelmente a sinceridade, a franqueza com que assumiu e assume ali as suas opções políticas. Outro ponto positivo: a correcta nomeação da 'guerra de independência' ou da 'guerra d'África' conforme a perspectiva em que se coloca.
Nota-se a sua atracção por personalidades fortes e a condescendência para com regimes autoritários africanos (não colhe, a meu ver, o argumento de serem estados novos - isso cria uma tendência, vê-se, mas não uma fatalidade).
É também muito interessante o desfile de informações que nos dá, vindas do 'outro lado' (o da UNITA, da África do Sul, dos EUA, dos neo-conservadores) e perda de mágica ou magia que leva os seus aliados a afastarem-se de Savimbi depois da morte de Tito Chingunji e de Wilson Santos. Interessante, aliás, a investigação que o autor faz sobre essas mortes. Interessante ainda como ele explica o desastre eleitoral da UNITA e os traços da personalidade de Savimbi que vão depois (quando se afasta de conselheiros independentes) contribuir para a rápida queda.
Enfim, vale a pena ler e está à venda em Angola.
19/12/2008
ângelo monteiro: o suplício do duende
"No meu coração ressoam árvores
Ignoradas da Terra. E entre seus ramos
Dispersa o Duende a lâmpada dos olhos:
Na insónia cuja chama não se apaga.
Não conto com as raízes dizimáveis
Das árvores da Terra. Mas com as árvores
Que fincadas mais fundo têm a garra
De latejar sem trégua no meu sangue.
Não cessa de arrastar-me em seus clamores
O Duende insone sob a sombra delas:
O Duende de corpo lancinante
E a alma perdida nas canções da Terra."
(Todas as coisas têm língua: seleção poética, Recife, CEPE, 2008, p. 266)
18/12/2008
Leitão preso para assar
Carlos Leitão foi um dos mais activos dirigentes da oposição civil angolana, à frente do PADEPA. Depois de fortes divergências internas, um dos seus companheiros tomou o partido e chegou a disparar sobre Carlos Leitão, no ano passado, frente à respectiva sede. Estranhamente, a polícia não prendeu o atirador nem averiguou nada. Antes das eleições o Tribunal Constitucional reconheceu a liderança do seu rival e a participação do PADEPA nas eleições redundou num fracasso total - esteve praticamente inactivo e, portanto, não recebeu votos nenhuns. Carlos Leitão, que sempre foi o rosto do partido, ficou 'constitucionalmente' de fora e apelou ao voto na UNITA, chegando mesmo a colocar apoiantes seus a distribuir propaganda dos 'maninhos'. Houve escaramuças com a polícia em Luanda por causa disso. Agora, baseando-se numa queixa apresentada pelo seu rival, em que diz que ele falsificou os documentos do partido e abusou do seu poder enquando líder, a polícia, sem mandato de captura e quando Carlos Leitão se preparava para sair do país por questões de saúde, prendeu-o. O seu advogado tenta o 'habeas corpus', alega a ilegalidade da prisão, bem como o facto de o seu constituinte ter problemas cardio-vasculares muito graves (está, aliás, preso no Hospital Militar Principal em Luanda, pois sofreu um ataque logo após a prisão). Nada adiantou até hoje. Carlos Leitão continua preso. Estes episódios somam-se a outros, como a perseguição (ora 'afável', ora violenta) aos militantes do PRS na Lunda, a citação dos irmãos Pinto de Andrade para irem à sede do MPLA justificar o seu afastamento político-partidário (apesar de, pelo menos um deles, há muito já não pertencer ao partido, tendo-se filiado noutro e declarado tudo publicamente), o aliciamento constante de militantes da oposição para se mudarem para o MPLA, com promessas de melhoria de vida, de cargos, etc.. Fica difícil não acreditarmos que o partido maioritário tem um plano para se tornar, na prática, o único. Disfarçadamente ou não, o facto é que os partidos e dirigentes que mais incomodam vão sendo perseguidos. Hoje uma coisa, amanhã outra, dá-se a desculpa esfarrapada do excesso de zelo de alguns militantes e policiais, diz-se que não há plano nenhum, depois de tudo adormecer um bocado faz-se outra patifaria contra a oposição. É assim que se entende a liberdade aqui: somos livres de dar cabo dos outros. No entanto, perante isto tudo, a restante oposição ainda não se manifestou. Depois queixam-se...
16/12/2008
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