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30/06/2008
renovação da continuidade
constant actualíssimo
28/06/2008
25/06/2008
24/06/2008
23/06/2008
mugabe, velho nazi
22/06/2008
jes
20/06/2008
barack obama
19/06/2008
a traição à Europa
18/06/2008
cinza
16/06/2008
viriato da cruz - o homem e o mito
15/06/2008
14/06/2008
canção do pelicano - a camões
13/06/2008
assassinato de agostinho neto
12/06/2008
lobito
Flamingos na restinga
De sotaina branca ondulam sinos
Em brasa na ferrugem dos portos;
Capas de reis cobrem as areias
Fálicas do escolho, da língua
Ventríloqua lambendo o mar;
A crosta queimada pelo sol
Arpoa os bicos estendidos, deuses
vigiando as águas
Esguias como palavras.
11/06/2008
tipografia experimental
08/06/2008
o fermento
Só, depois da chuva, no silêncio espesso
— Tardias gotas sobre o chão,
Esguias e pássaros coados —
Rescalda a luz dos olhos sobre as casas.
Regresso incógnito e banido
No trágico teatro da coragem
— Lá,
Onde um canto imoral e sem grandeza
Cobre o asfalto indiferente e escasso,
A esbatida cal dos muros baixos,
Maleáveis,
Ignorando que mundo continua
No desbordo curvo das ruas, na viúva
Praia
A fermentar.
jameson benguelense
comércio benguelense 1
futebol e electricidade
07/06/2008
rené daumal a guerra santa
miga banto
Deliciado nestas terras a comer o meu bom funge de galinha, carne seca, ou peixe seco, fui surpreendido por Ladislau Batalha, judeu errante e assumido, socialista, anarquista, ecologista sem o saber como o são os autênticos, que deambulou por estas costas negras uns quatro anos à procura de fortuna após uma falência estúpida em Lisboa. Escreveu umas cartas a um amigo curioso sobre Costumes Angolenses, que se tornaram muito proveitosas ao povo e às escolas. Fico surpreendido porque também ele comia muqueca – de peixe, claro. Sei que não é a brasileira mas a nossa, daqui, onde a banana frita e a batata doce criam no estômago a crosta conveniente às derrotas do vinho tinto carrascão, comprovado que está que o peixe não puxa carroças como se diz em Portugal. Então e não é que o avô Ladislau vem de Lisboa ao mato angolano para encontrar a muqueca feita com peixe do rio e, pasme-se, pão amassado para acompanhar?! Quando era miúdo pensei que a minha avó tinha trazido isso da sua Beira serrana e altiva com seus vinte e poucos anos; já adulto e disperso na lusofonia atlântica, achei que afinal talvez algum ratinho tenha levado a receita do Alentejo para as serranias pobres de pinhais e barrocas deserdadas por Deus e até mesmo pelo Diabo. Agora apanho o avô Ladislau e, com aquela sua prosápia de judeu sabido, ele ensina-me que também comiam disso aqui há cerca de cem anos, pouco mais. Essa mistura de pão velho e água nova que se chama de miga, palavra saborosa e esmigalhada pelo saboreio entre dentes e papilas gustativas.
Uma vez que é função dos intelectuais encontrar a voz certa para o paladar mais agradável, eis-me regressado do meu Kapiandalo natal à biblioteca municipal de Benguela, onde espreito as etimologias de Fr. Francisco de S. Luiz, muito da minha predilecção por inusitadas e ainda assim prováveis. Era para ele a miga uma espécie de sopa, substantiva, que vinha de “migar, partir em pequenos bocados, e misturar para fazer sopa.” Ele tira a miga directamente do grego (“pouco usado”) migw, misturar e dos seus parentes miga (misturadamente) e migaV (mistura). De modo que, em homenagem aos nacionalistas gregos de Angola de sobrenome Dáskalos e aos judeus errantes que por aqui se misturaram, penso fazer este sábado nada menos do que uma boa muqueca de migas e servir assim a lusofonia inteira. Sou ambicioso, sim. Quero bom jindungo, variante mais colorida da chamada malagueta, aliás, quero aquele esticadinho que pica mais e não serve para decoração, misturado com uísqui e azeite doce a cantar desde 19 e troca o passo. Muitos passos para trocar, aliás, na longa sabática de hoje. Ou sabatina? Hi!...
06/06/2008
poema disperso de mário antónio
05/06/2008
obras secretas
04/06/2008
02/06/2008
caligramas de anita toutikian
01/06/2008
lançamento da nova águia em évora
poesia de adelino torres - último verão
Chegou o estio a arrastar
o bafo quente da ira
em desespero de fogo
quando os espíritos do mal
passam rente ao sofrimento
num cosmos desordenado
que enlouquece a verdade
na confusão do sentido,
matando o perfume antigo
do musgo nos muros velhos
e a música que as ervas cantam
ao renascer de manhã
na planície da ausência
onde agoniza a saudade,
estrangulando em silêncio
o que ficou por dizer
por detrás da aparência
que esconde dissimulada
o ardil da violência,
e a palavra não dita
que se usou sem ser usada
deixando pelo caminho
o amargo sabor do nada...
poesia de adelino torres - tempo dos «ismos»
Chegou a nave dos loucos
que fundeou na baía
ondulando mil bandeiras
uma nova em cada dia
não tem mastro nem velame
tripulada por fantasmas
em tempo de assombração
almas mortas que mataram
a razão da rebeldia
e a vontade da razão
poesia de adelino torres - sobrevivência
Enganar a solidão
é viver uma segunda vida
numa passada dormente
à sombra da sombra escondida
do lado de lá da lua
a tentar matar a morte
sem perecer no caminho
de uma noite indiferente
como um cão agonizante
a uivar sozinho...
poesia de adelino torres - aforismo
ATREVIMENTO
É sempre sob a forma de um saber
que a ignorância vocifera.
poesia de adelino torres - extracto
Dos velhos alfarrábios saem vozes antigas
que sussurram pensamentos a moldar a vida
e percorrem estradas verticais até ao tecto
entoando músicas ausentes
que vibram em surdina como se não estivessem lá
de sentinela a guardar fronteiras incorpóreas
em castelos erguidos sobre nuvens com raízes
que mergulham no coração dos homens.
(do poema «Vozes»)