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30/07/2021

Moderando o exílio

na recolha das ondas,
a limpar horizontes
na alvinitente espuma 


 

29/07/2021

Talvez azul

"E perdidos de azul nos contemplamos
e vimos que entre nós nascia um sul
vertiginosamente azul. Azul."


 (Carlos Pena Filho - Soneto do Desmantelo Azul - último terceto)

28/07/2021

Devaneios de areia - o caminhante solitário

"Por isso o caminhar identifica-se com o vagar, o andar indefinido, como a representação do sonho, que se distingue pela sua irrealidade. Assim, a recusa dos caminhos da racionalidade e da sociabilidade encaminha para a sensibilidade o sujeito que vai ao encontro de si."


 

27/07/2021

Tiras da vida quotidiana - Lisboa:


as linhas de vida horizontais, 
quando falamos em segurança,
têm duração mais longa
porque se fixam presas 
a uma estação de trabalho
relativamente estável.


 

Olho pela janela entreaberta -

Há sem dúvida quem ame o infinito


(Álvaro de Campos)

 

26/07/2021

Desafio de Al-Mutamid

La brise transforme le fleuve en une côte de maille


 

25/07/2021

Átomos estéticos são também cognitivos

 “Quando vemos algo além de nossas expectativas, pedaços locais de tecido cerebral geram pequenos ‘átomos’ de afeto positivo. A combinação de muitos desses sinais no sistema visual contribui para criar uma experiência esteticamente atraente”

(Edward Vessel)



24/07/2021

Nem sempre, amigo, junto às conchas,

o registo da caducidade 

elimina efetivamente

o arcaísmo que o transcende



23/07/2021

Maneiras de ver o mar

ao fim do dia


12.8.1852, conversa entre Victor Hugo e seu filho: 
"«Que penses-tu de cet exil?, interroge son fils François-
Victor.
- Qu’il sera long, répond le père.
- Comment comptes-tu le remplir ?
- Je regarderai l’océan. Et toi ?
- Moi, dit le fils, je traduirai Shakespeare.
- Il y a des hommes océans en effet, répond Victor Hugo,
c’est la même chose de regarder Shakespeare ou de regarder
l’océan.»"

 

22/07/2021

Linhas paralelas e


factos consumados


deixando um brilho claro de asa morta,
raiva amassada com as pedras do percurso. 

Uma curva zuada para longe,
já não magoa a rota. Surpreende,
Mas nunca volta. Só olhar regista.


 

21/07/2021

Reconheces-te uma pérola

Guarda bem o teu segredo. 
Não acendas a inveja.


 

Ocidental o pássaro

 debica a sua ausência



20/07/2021

Conclusão muito calma -

"ahora hay tal certeza
de que un pie sigue al otro
y el sol y la luna hacen el día juntos
y el reposo no es terrible"


(Blanca Varela, Canto villano, p. 52)

 

19/07/2021

Atento escutava o búzio a música das ondas,

"a evidência do lugar sagrado
[...]
e a métrica de um verso a determina"


(dois versos de Sophia de Mello Breyner Andresen)

 

18/07/2021

Morava mesmo em frente a mim

"Vago, solúvel no ar, fico sonhando..."


(excerto do poema «Escrevo diante da janela aberta», de Mário Quintana)

 

Aconchego

Niguém sabe se ele é branco
Se é mulato ou negro
Quem não sabe o que é xamêgo
Pede pra vovó
Que já tem setenta anos
E ainda quer xodó
E reclama noite e dia
Por viver tão só


(Luís Gonzaga - Xamêgo)

 

17/07/2021

Semiopsicologia

...entretanto, cada um reage de maneira diferente
perante os mesmos acontecimentos...



 

16/07/2021

Diz o servo:

nem tudo o que lembro tenho


 

O preço da aventura

sendo incerto, só o poste nos dava a linha vertical:


 

15/07/2021

Conclusão:

Qualquer afirmação individual acerca de qualquer identidade coletiva 
é um rapto


 

14/07/2021

Um barco te espera

na desfocagem do cais


 

Poética do reflexo na garganta

Um poema começa com um nó na garganta

(Robert Frost)


 

13/07/2021

Mar absoluta

e eu navego e estou parada,
vejo mundos e estou cega,
porque isto é mal de família,
ser de areia, de água, de ilha...
E até sem barco navega
quem para o mar foi fadada.


 

(Cecília Meireles. Mar absoluto e outros poemas. - excerto do poema «Beira Mar») 

12/07/2021

O parque das nações

 em Lisboa

tem um poder difuso

mas com proa



Ponte 25-A, Lisboa

 "Homens que têm tombadilhos, que têm pontes donde olhar"


(Fernando Pessoa)


11/07/2021

Letramento - U V

 


UR - At some time in the 4th millennium BCE, the city was founded by settlers thought to have been from northern Mesopotamia, farmers still in the Chalcolithic phase of culture. (Britannica)

VIR -
uir, uiri, homem, varão.

UA VA - água (gua ou gwa, vava, water, wasser, iguatemi - rio ondulante)


10/07/2021

De resto, trocando em miúdos,

As marcas de amor nos nossos lençóis
As nossas melhores lembranças


(Chico Buarque e Francis Hime)

 

E o alcatrão veio lembrar velocidade aos carros - Mário António

 


Não se lembram do Gigante das Botas de Sete Léguas?
Lá vai ele: vai varando, no seu vôo de asas cegas,
as distâncias...
E dispara,
nunca pára,
nem repara
para os lados,
para frente,
para trás...

Vai como um pária...

E vai levando um novelo embaraçado de fitas:
fitas
azuis,
brancas,
verdes,
amarelas...
imprevistas...

Vai varando o vento: — e o vento, ventando cada vez mais,
desembaraça o novelo, penteando com dedos de ar
o feixe fino de riscas,
tiras,
fitas,
faixas,
listas...
E estira-as,
puxa-as,
estica-as,
espicha-as bem para trás:
E as cores retesas dançam, sobem, descem de-va-gar
paralelamente,
paralelamente
horizontais,
sobre a cabeça espantada do Pequeno Polegar...


(Guilherme de Almeida, Encantamento (1925). Poema integrante da série III - Sete Poemas)


09/07/2021

A outra faca

Isso que não está
nele está como a ciosa
presença de uma faca


(de Uma Faca Só Lâmina, João Cabral de Melo Neto)

Acusação

 Oh meu país de areias brancas,
 meu país de mar
 meu país de povo
 eu quero ser espuma


(do poema Terceira Gota, de F. Costa Andrade)


 

08/07/2021

Sobre um verso de Rodrigo de Haro

 Não podes desejar quem não devoras


(primeiro verso do poema O Cozinheiro Infernal)

07/07/2021

Uma certa fauna,

 rígida, 

move-se devagar

ao sabor das ondas



06/07/2021

Madrigal - Aimée Bolaños

Ojos serenos

no me conformo

con la mirada.


Vivo en el desierto

de las tentaciones

en el hueco del deseo

de la fiera

y de los sueños

y del cansancio.


Quiero el cuerpo todo.

Tengo hambre.


(Aimée Bolaños. Erótica Medusa. Uberlândia: o sexo da palavra, 2021. - p. 49)


Parece que o mar

está a cair, impossível endireitar a linha do horizonte. Foi necessário baixar a elevação da duna à esquerda para que se notasse menos a notícia nada provável: o mar estava a cair, o nível das águas baixava assustadoramente à direita apesar das alterações climáticas indicarem sinais opostos. 


 

05/07/2021

Ton sur ton

 um vasto plano de verdes, animado 



Enquanto a cidade acorda

 e o espírito não dorme no vértice das nuvens



04/07/2021

História de uma concha

 uma pequena moeda pode contar-nos a história do mundo



Bandeira da paz


Branca e azul. A morte é branca. Descansa em paz. O céu azul.


 

03/07/2021

Pombo aleatório -

a arquitetura - arte dos princípios - desenhou as linhas e escolheu os materiais que deixassem passar a luz para baixo (o inferno, não o católico, mas o das catacumbas, das cavernas, o mundo inferior onde as almas dos mortos vão viver segundo muitas tradições antigas de várias partes do mundo). Funciona. Quando estamos lá em baixo recebemos essa luz. Mas há a vida e, por vezes, a vida assume a forma de um pássaro que, por acaso, poisa no vidro transparente com suas formas e movimentos redondos suaviza a dureza dos princípios, retilíneos, e deixa uma sombra passageira, quase inquietante, sobre a escassa luz do inferno.


 

02/07/2021

Linhas férreas -

 previsto, limpo, determinado, funcional. 



Debicando

a faina matinal para aplacar os ff's: frio, fome, falsificação... porquanto, pelo menos a necessidade, nos obriga a reconhecer o verdadeiro alimento.


 

Castazul

 Entre castanho e azul

A fronteira branca



01/07/2021

Pampa de baixo

 terras rasas sobre a lagoa



Viagem sentimental

 a um país perdido