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30/06/2020
29/06/2020
28/06/2020
27/06/2020
26/06/2020
25/06/2020
24/06/2020
23/06/2020
22/06/2020
21/06/2020
Árvore persistente
crescendo na sombra de si própria, ainda assim extensa e sólida, espalha seus dedos para fora
em busca de luz e próxima das águas
onde reflete o sol em movimento;
alonga seu poema de madeira e verde, sua síntese
de luz e terra humedecida, fértil chão.
Voltada para a sombra de si própria, a cicatriz ainda se abriu, ainda assim, para receber as folhas secas que o sol não pôde salvar. Assinala a vereda para fora de si, no ar aberto onde se resolvem as antigas feridas.
20/06/2020
Emaranhado nos teus braços
A dispersão generosa
Fraternos dedos alongados
Em dádiva aleatória
Envolve sílabas exiladas do património
Radical com a razão fecunda
Nascida no espelho das águas paradas
Aguardando o regresso da vida.
19/06/2020
18/06/2020
17/06/2020
15/06/2020
14/06/2020
13/06/2020
12/06/2020
11/06/2020
10/06/2020
09/06/2020
08/06/2020
Cais de quarentena
Cai de quarentena o olhar pausado no cenário, por acaso? num voo de pássaro sobre as águas calmas, o anúncio de tempestade ao fundo, a vigia de cimento vazio, completamente inútil e a luz atrás das nuvens insinuando a existência do sol.
O resto que o digam os feiticeiros e os messias das burras.
07/06/2020
06/06/2020
05/06/2020
04/06/2020
Expressão
Olhando a estátua rústica, a boca tapada pelo cimento depois de esmigalhada pela queda, talvez, não sei, do paraíso... Quebrado o nariz também, restam-nos os olhos, abertos, como nos homens saudáveis um fitando numa direção e com uma expressão ligeiramente diferente da que segue o outro. Reparem, o da direita (de quem vê) mais incisivo, mais duro, o da esquerda um tanto mais vago, interrogando mas quase a pairar numa órbita perdida, e a testa alta, só com as marcas do cinzel, sem se ter chegado a criar a ruga, as linhas coincidentes com a expressão dos olhos. Alguém dirá: mas depende da perspetiva. A minha foi esta.
Recordei-me, nesse instante, do verbo perscrutar e confesso não saber ainda qual foi o resultado do escrutínio.
02/06/2020
01/06/2020
Não arde
Podes dizer que o fogo se descobriu pela fricção de duas pedras; outros asseguram, como se lá estivessem, que eram dois pauzinhos. Eu já presenciei todos esses fenómenos. Não por ser Deus, nem por ser antigo, mas porque fizeram questão de me mostrar a fricção das pedras e a chama que deu; também, no mato, me mostraram os pauzinhos com que se pode acender fogo e acenderam.
Mas, juntado pau e pedra, não chega para fazer fogo.