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09/11/2009

alda lara testamento


À prostituta mais nova 

Do bairro mais velho e escuro, 
Deixo os meus brincos, lavrados 
Em cristal límpido e puro...

E àquela virgem esquecida, 
Rapariga sem ternura, 
Sonhando algures uma lenda, 
Deixo o meu vestido branco, 
O meu vestido de noiva, 
Todo tecido de renda...

Este meu rosário antigo 
Ofereço-o àquele amigo 
Que não acredita em Deus...

E os livros, rosários meus 
Das contas de outro sofrer, 
São para os homens humildes 
Que nunca souberam ler. 
Quanto aos meus poemas loucos, 
Esses, que são de dor 
Sincera e desordenada...

Esses, que são de esperança 
Desesperada mas firme, 
Deixo-os a ti, meu amor...

Para que, na paz da hora, 
Em que a minha alma venha 
Beijar de longe os teus olhos, 
Vás por essa noite fora...

Com passos feitos de lua
Oferecê-los às crianças
Que encontrares em cada rua...