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27/10/2009

adelino torres fim de tarde

Adelino Torres continua a publicação da sua poesia. A segunda coletânea (Histórias do tempo volátil) chegou-me há poucos dias à mão, por gentileza do autor.

No geral contém as mesmas caraterísticas: um arco genológico variado, que vai da lírica pessoal à sátira voltada sobre os políticos e as asneiras do quotidiano em que nos envolvem num futuro duvidoso, passando pela reflexão filosófica moralizante. Os textos em geral curtos e incisivos convocam o leitor para um breve ensinamento (há provérbios em verso também na antologia), para quadros ou alusões de caráter narrativo e também para descrições lapidares. Essas descrições montam imagens visuais que, pelas suas caraterísticas e pela maneira como se nos apresentam, nos deixam em suspenso por um tempo, funcionando a visualidade como ferramenta ou mola da reflexão. É o caso de «fim de tarde»:

No horizonte as jovens nuvens dançavam

A dança da cabra cega

Em torno da grande fogueira

Cujo ardor enchia o céu

Pintado de azul profundo

Iluminando os olhos das crianças

Que brincavam descuidadas

Com a aparência do mundo.