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20/09/2009

fernando costa andrade


Morreu o poeta e artista plástico nacionalista (angolano) Fernando Costa Andrade (já agora, é mesmo só Fernando Costa Andrade e não Francisco Fernando como dizem quase todos na esteira de Manuel Ferreira; o próprio autor chamava constantemente a atenção para isso). Costa Andrade usou muitos pseudónimos (por exemplo Africano Paiva), entre os quais se destaca o de Ndunduma we Lépi (nome de guerra; Ndunduma é nome de um dos últimos e mais obstinados reis resistentes à ocupação colonial no princípio do século XX). Era filho de pai português e mãe angolana. Segundo a nota do bureau político do MPLA, faleceu na 6.ª F.ª passada (dia 18, portanto). Homem coerente com os seus princípios, combateu pela independência literária e política do país, incluindo de armas na mão. Autor de um canto armado, teve no entanto um conhecimento razoável do concretismo paulistano, dos tempos em que esteve por lá, exilado e ativo, em Sampa, São Paulo, Brasil (aí publicou, recordo, o segundo livro: Tempo angolano em Itália). Que a sua alma tenha paz. Vida à poesia: 

A pedra da Emanha
poesia tem-na a pedra o poema um outro eu sou afinal o transporte roda parada no tempo mó rasgada desassossego eis-me pedra sem ser pedra apenas uma fissura coágulo secura



Criança notívaga do Luena

o vento não diz nem o sol atrás do mundo a escuridão não distingue a criança do caminho do mundo pés descalços gémeos no silêncio do mundo nada sabem donde vêm onde vão caminham sós no mundo

(do livro com verso comigo, onde retoma significativamente algumas lições concretistas. Publicado pela Chá de Caxinde, Luanda, 2005; propositadamente, para mostrar o vanguardismo oculto do poeta, retirei a divisão versicular; fica parecido com certos poemas de Abreu Paxe).