Um dos grandes atrativos do MPLA é o de não se saber ao certo, nem o que é, nem o que vai ser, nem sequer quando foi criado. Mas tornou-se consensual, por investigações e testemunhos e confissões, que não foi criado em 1956. Um Prémio nacional de cultura e artes relativamente recente, Edmundo Rocha, confirmou-o e tinha vivido os acontecimentos o suficiente e investigado o suficiente para afirmar isso. Corrigiu alguns exageros ou alguma precipitação de Carlos Pacheco, o primeiro a investigar frontalmente o grande mito da criação do MPLA em 1956. Lembro-me de há uns anos, finais dos 9o talvez, ouvir Beli Belô a confessar publicamente, no Museu República e Resistência, em Lisboa, que o MPLA não tinha sido criado em 1956. Viriato fez nesse ano um manifesto que foi servindo várias iniciativas de nacionalistas urbanos (sobretudo luandenses) e veio a ser a base do manifesto do MPLA. O Dr. Edmundo Rocha coordenou, com um insignificante apoio da minha parte, um livro sobre Viriato da Cruz, distribuído em Luanda pela Chá de Caxinde, em que justamente comprova tudo, em que republica cópia integral do manifesto de 1956, que eu vi com os meus olhos. Está lá no livro e em momento algum se fala no MPLA, usa-se sim uma frase, na qual se diz que é necessário um amplo movimento popular para a libertação de Angola, ou algo muito parecido. Como o Manifesto de 56 foi o guia de toda essa geração nacionalista urbana e acabou sendo o guia do próprio MPLA durante muitos anos (ainda podia ser hoje...), acabaram aproveitando a frase, que exprimia as ânsias dos nacionalistas de esquerda, para criar a sigla - o que acho muito provável. E, precisando de uma sigla para se fazerem representar, frente à UPA/FNLA, Mário Pinto de Andrade e seus amigos criaram o MPLA e começaram a assinar comunicados em nome do 'amplo movimento' - na altura constituído por um grupo restrito.
No entanto, em Angola, Rosa Cruz e Silva chefiou uma equipa que (re)escreveu a estória do MPLA, oficial. Ficou muito bonita graficamente. Em Benguela distribuíram-na como quem desse um presente raro. Raro e valioso. Foi dado a pessoas distintas no poder e no partido. Todos se orgulhavam de a ter em casa e, de forma geral, a não lêem. Fazem bem, porque está cheia de imprecisões, lacunas ou mesmo mentiras. Apesar de todos estes dados e de não haver grande prejuízo em assumir a verdade, a formosa historiadora fez com que se mantivesse uma antiga 'verdade' oficial, a da criação do Partido em 1956 - coisa em que já ninguém acredita. Na 6.ª F.ª passada foi à homenagem a Mário Pinto de Andrade feita na Universidade Lusíada de Angola. E reafirmou tudo apesar das evidências em contrário. O público (maioritariamente estudantil) ficou estupefacto, percebendo que não podia confiar na sua ministra. Eu confesso que não me admirei muito.