Por vicissitudes várias fui-me apercebendo, desde o início, da existência deste poeta, nascido em 1964. Confesso que, desde o início também, os livros dele me pareceram precipitados. São casos em que os nomes vão ficando em suspenso até melhores novidades. Creio que desta vez isso aconteceu: melhores novidades.
António Pompílio pubicou mais uma coletânea de poemas, Fronteira: a passagem do limite (Luanda, UEA, 2008). O próprio título define o sentido com que o poeta fala em fronteira: não como bloqueio mas como lugar que marca o instante em que vamos para além (de nós, da memória). O prefácio parece-me oportuno, chamando Glissant para a interpretação da obra e compreendendo que a poesia é isso mesmo: a superação dos limites - através da beleza, claro.
A coletânea constitui uma boa surpresa, com um ritmo entre prosa e verso, uso de alguns tímidos mas oportunos grafismos, imagens apropriadas a um texto em aberto mas coeso. De quando em quando, ainda aparecem gorduras, excrescências, palavras e figuras que não se percebe o que fazem ali, poeticamente não se justificam. Alguma imagem pode parecer desajeitada. Mas há um conjunto de bons poemas. O autor parece ter entrado numa fase propriamente poética. É de saudar. Que seja bem vindo e continue na mesma senda. Para o leito do leitor não ficar a seco exposto à aridez desta prosa, copio uma das composições:
Peugada
O calção roto sorriu das rotas das pernas sem pés, com os calos das botas pequenas: um par só à chuva, no triste frio da estrada sem olhos.
Kandando, Pompílio.