Nem para a terra nem para o céu
fomos feitos. Nem mesmo para ser lembrados.
No encontro entre a luz dos nossos olhos
e a imagem das coisas provisórias
consistem nossa noite e nosso dia.
Não tem preço e é inútil
aquilo por que suspiramos.
Mas também é inútil o que é perfeito
e não tem preço a sua perfeição.
Por fim não tem preço e é inútil
tudo que nos perde ou que nos salva.
Fomos feitos para além da vida
pequena e - porque pequena - anunciada.
Fomos feitos para o clamor do que não sabemos.
Para ouvir o som das flores - graças às abelhas -
no murmúrio e no anúncio do seu mel.
(Ângelo Monteiro, jesuíta beatnick e vice-deus; poema dedicado a Francisco Soares)