(vale a pena ler até ao fim
embora no princípio não pareça
- como a partir de Boileau se chega
às imagens elé[c]tricas do amor)
Lá, pour nous enchanter tout est mi en usage;
Tout prend un corps, une âme, un esprit, un visage.
(Boileau, Art Poétique, chant. 3e)
A música, o desenho e a poesia
são os motores, em geral, do amor,
a luz da vida, o alívio da dor;
na terra, o Deus do encanto e da alegria.
A música, posto que só nos fira
melancólica o orgão auditivo,
é, em suma, d'amor um sinal vivo,
que doce o ouvido faz, a alma delira.
O desenho, áureo laço de ventura,
é um espelho mágico, fingindo
o vivo rosto que prezamos, lindo;
é enlevo dos olhos, a pintura.
A Poesia, linguagem mais augusta,
é o ideal de vividas paixões;
eletriza os mais fortes corações
e comove até a alma mais robusta...
A tinta, que rebrilha na alva tela,
a nota, que desfere hábil artista,
esta ferindo o ouvido, aquela a vista,
não são senão a electro-imagem dela.
(Um desmemoriado, Luanda, 1880)