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14/02/2008
Luanda, 14-02-2008
Hoje uma Luanda melhor. A manhã agitada, a gente sente-se perdido e abandonado e, repentinamente, a solução dá-se, tudo salvo em cima da hora e por milagre. Aqui sentimos mais a presença de Deus.
À tarde boas conversas. Há uma efervescência cultural a crescer em Luanda. Caminhamos para, pelo menos, algo do nível dos primeiros anos 70: variedade, competição, produtos cada vez melhores (também não era preciso muito mas a procura de rigor nasce mesmo no pântano e ela é que nos leva até ao céu, para além do céu). Boa música. Variedade e pessoas com quem falar de cultura. Na rua e na paisagem a saudade de Benguela com suas ruas poeirentas, sua paisagem doirada e seca, suas pessoas meio agrestes e meio doces, seu trânsito fluído e o passo calmo das senhoras com panos a varrer a sombra das árvores grandes. Mas aqui há variedade, há pessoas com quem falar de assuntos que só interessam aos interessados em cultura. E as mulheres quando se arranjam no capricho do dia (dos namorados) arranjam-se para competir com o primeiro mundo. Às vezes é preciso. É preciso ganhar ao primeiro mundo. Os nativistas estão cada vez mais ridículos, isolados e assanhados. Uns evoluíram, requintaram-se no pensamento e exigiram-se na pesquisa ou na reflexão e na pesquisa. Outros mostram o que são: frustrados pela sua própria ineficiência que procuram levantar a poeira para garantir o poder. Ameaçam, muito ainda, promovem com o poder que têm actos de racismo, ora velado ora aberto. O banto do nativista é o ariano do nazi. Ridículo, veste-se à ocidental, procura restaurantes caros com loiras, fala de livros sem os ler e avisa os amigos dos outros: cuidado, podes-te dar mal. Não te metas com eles. A premiação é limitada pela cor da pele. Mas cada vez menos fazem sentido aqui. A não pela presença indiferente dos indiferentes que procuram forçar aqui uma cidade igual a tantas outras igualmente artificiais. Os extremos são cúmplices. E a boa conversa é que valeu a pena. Desta vez na Chá de Caxinde. Com boa música e músicos coloridos. O jazz angolano, o blues angolano e a Angola das canções antigas, dos solos de guitarra eléctrica a lembrar cordas de nylon, a bateria sacudida com o ritmo nervoso dos batuques ou a melancolia das marimbas-solo. E a voz doce das mulheres a incendiar-nos as noites na baía. E a elegância de alguns amigos a explicar-nos a música, a vegetação que desapareceu da cidade e era a daqui, os olhos a brilhar quando se cruzavam com os dela, aí Benjamim! Aiué beça'ngana...