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18/04/2025

Recuo


estratégico


 

16/04/2025

Para quem vem de longe


no seio do silêncio

 

15/04/2025

Uma pedra estava,


podia ser, sobre o caminho


(simetria involuntária)

(Henri Bergson, Le rire)

 

14/04/2025

paraguay barrios llosa


"Popeye Arévalo tinha passado a manhã na praia de Miraflores. Não vale a pena estares a olhar para a escada, diziam-lhe as raparigas do bairro, a Teté não vem, com certeza. E, efectivamente, a Teté nessa manhã não foi tomar banho."

(Mário Vargas Llosa, Conversa na Catedral)



 

11/04/2025

Desfolharam-se em busca


da mesma luz. São verdes

 

10/04/2025

Arte e natureza


"É necessário recomeçar sem fim o testemunho da ocorrência, deixando de ser a ocorrência."
(Lyotard, O Inumano)


 

O concurso espontâneo

das diversas considerações gerais basta para caraterizar o estado sistemático do capitalismo pós-industrial, aliás... 



09/04/2025

Cerimónia


cosmogónica




 

07/04/2025

Delírios na grande estrada,


incidências arcos íris fragmentos carnavais,
chilreadas de chindembere
- saltitantes, alegres e ligeiras -
em bandos com papo cheio
no regresso dos massangos dali
entre nuvens muito sérias...


 

O relâmpago


não dura um dia


 

06/04/2025

05/04/2025

Gur - elevar, levantar


(o que pratica a união)

 

Ruína gráfica


(Rua Serpa Pinto, Évora)

 

02/04/2025

"provido de cornos,


cujas pontas alcançavam os céus"


 

01/04/2025

As filhas estranhas


do branco e do negro

 

Nada é necessário


se o contrário foi possível


(ensinava Leibniz)

 

30/03/2025

Caminha pensando:

A ameaça chama pela força, a força é o limite da justiça.



Casou-se

 de sangue azul



Castidade


"A ordem do mundo é clara, embora maravilhosa, e distinta, embora paradoxal" (Miguel Real sobre a filosofia de Leibniz)

 

Aforismo


incompleto


(aforismo vem do grego ἀφορίζειν,  “definir”)

 

26/03/2025

Imaginário


transnacional


(as ondas formam-se junto à costa, mas vieram de muito longe)

 

25/03/2025

Por aí,


já não há caminho


 

23/03/2025

22/03/2025

Camilo Castelo Branco, o amor e o cheiro:


Dizia Camilo Castelo Branco, autor muito lido numa Luanda de amores profícuos e consequentes, que lhe apreciava os sarcasmos e humores rasteiros e certeiros, além de muito bem dispostos: "Autores, embalados no berço da humanidade, falam da mulher, e provam que o amor, se não é mais velho, é pelo menos contemporâneo dos narizes." Um amigo meu, moçambicano, dizia que "o amor é o cheiro." Entretanto Camilo, nas vestes de outro e numa antecipação de Jorge Luís Borges (inventando autores e tradutores), cita Heródoto ao falar nos raptos de mulheres, para concluir que não vale a pena vingar os raptos que, se elas não quisessem, não eram raptadas. E conclui (essa primeira parte da sua crónica) dizendo que as tolices feitas por causa do amor (logo, por causa do cheiro, dos narizes, e do "primeiro casal de bichos"), hão de ser tão velhas que já com nenhuma se consegue ser original. Mesmo com Ana Plácido.

Dito o que, o ficcionista iconoclasta prático se vestiu de "Príncipe, costume bonito e original" e perturbou "a tranquilidade de muitas almas que ainda não acordaram ao arraiar do amor", passando a conseguir "admiráveis conversões de mulheres heréticas na religião do sentimentalismo, com o meu vestido de príncipe, que aluguei por 540 réis."


 

21/03/2025

Postal noturno com chuva


Ao fixar o instante, inscreve-se na imagem uma intemporalidade marcada pela ausência. 


 

20/03/2025

Tudo


no devido lugar, diriam os deuses...


 

18/03/2025

Evidência

...na montanha fria:
O caminho pontilhado
Pelas flores brancas.


 

17/03/2025

A capela


Cantar a capella, só voz(es). O ritmo cria, mesmo a capella, um percurso, com rumo definido e foco ao fundo. As vozes esculpem relevos de cor, ângulos especiais, portas e janelas. Ao fundo o foco. Isso é comum desde a pré-história: traços indicando um caminho e um destino. Por isso esta espécie de imagem tem sempre sucesso. 
 

Limites em pedra


(semióticas de fronteira, 
longínquas ondulações interiores)

 

15/03/2025

Poema


E há palavras pétreas como conchas
desfazendo-se na areia.
E há pedras que se movem como caranguejos
escondendo-se na areia.
E há quem se desfaça por inspiração
enterrando na areia o verso e a pretensão.

Depois, às vezes bem depois, é que nasce o poema.
Sem dizer nada, sem aviso, quase sem palavras.
Esquecido.



 

14/03/2025

13/03/2025

12/03/2025

A unidade na paisagem


"A unidade da coisa permanece misteriosa enquanto considerarmos suas diferentes qualidades (sua cor, seu sabor, por exemplo) como dados que pertencem aos mundos rigorosamente distintos da visão, do olfato, do tato etc. Porem a psicologia moderna, seguindo nesse aspecto as indicações de Goethe, observou justamente que cada uma dessas qualidades, longe de ser rigorosamente isolada, tem uma significação afetiva que a coloca em correspondencia com a dos outros sentidos."

(Merleau-Ponty, Conversas)


 

11/03/2025

És desconhecida,


nenhuma língua será capaz de descrever a tua vida


 

Caminho longo,


ascensão difusa. Quando começas nunca sabes
no que vai dar.


 

10/03/2025

O monumento é um traço

de referência. Posso nem saber quem é a figura estatuída, porém sei que lugar é esse ao ver a estátua. Isso torna o monumento importante: centro, foco, referência, localizador. O monumento é uma maiúscula na rede viária da cidade verbal. É natural que se aproveite para o tornar uma referência partidária, ideológica, nacional, internacionalista, pensando que assim vamos comandar as gerações rumo ao futuro definido. Brincadeiras para tolos. Quando lá passo, o que sei é que estou naquela praça e, portanto, sei por onde vou para chegar à Ribeira, que eu me revejo no cais, abaixo do homem que aponta, olho para o mar à direita e para o rio à esquerda, vejo as águas passar e sei porque estou aqui. A minha memória viva é o meu monumento de referência. Não por acaso (sem o saber?) a estátua me aponta o Cais e dela teço um 'pós-tal'.


 

07/03/2025

Sempre o grito suspenso


migrando para os olhos
sob a placa implacável
daquela obturadora