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19/05/2025

Arquitetura lírica religiosa


(Porto, igreja de Cedofeita, a nova)

 

18/05/2025

Do caminho solitário:

 


Não desdenhes o homem sozinho.
Quando sucumbes sob os vapores da noite
Ele está a caminho
Para levantar o sol.


17/05/2025

Fechadas as palavras,



demoro-me. 
Colo-me na parede
ouvindo os botões abrirem


 

15/05/2025

A ravina sob o céu

retorna à infância


 

13/05/2025

Quem se arriscaria


a ver um começo
no lugar do fim
?

(sobre uma frase de Eudoro de Sousa)

 

11/05/2025

Debaixo das brancas nuvens invisíveis,

 numa cana de bambu, 

roendo os últimos açúcares 

da propalada infância desmedida,

muito aquém da profecia,

vi sucumbir o catuítuí

empoleirado num ramo fino e seco.




08/05/2025

Sob nuvens brancas

Trabalho em cor
o búzio da pele


 

07/05/2025

Numa cana de bambu

O que lembro de mim vagueia
sobre as escamas do lago.


 

06/05/2025

Para além da profecia


a atual memória dos povos não sabe
que somos homens sem caminho.

 

Na montra da infância

não vejo o meu rosto


 

05/05/2025

Calor

primaveril



Animal

reflexivo


 

04/05/2025

03/05/2025

Não somente

uma divergência


 

02/05/2025

Mito

descentrado



A asfixia do processo prévio na arte fotográfica

 


Como em quase todos os ramos artísticos, o século XX valorizou mais o processo que a obra. Em parte isso deve-se aos avanços tecnológicos e científicos. No caso da fotografia, estando ainda muito próximos os procedimentos iniciais e havendo já condições para trabalhar criativamente com eles e com os contemporâneos, a preparação do momento do 'clique' (por agora, chamemos-lhe assim) concentrava as atenções. Os grandes fotógrafos não deixaram de pensar previamente a obra, mas não sem se afastarem da imagem que tinham em mente, que era a verdade artística a representar. 

Os ideólogos, partidários, conteudistas, organizavam a imagem prévia e o processo para a fotografar, de maneira a fazer o resultado coincidir com a mensagem. Aproveitam lições do teatro e do cinema. Num retrato, por exemplo, o gesto, a expressão dos olhos e dos lábios, a posição do rosto, a incidência da luz, o ponto de vista, a anulação do ruído pela sombra e qualquer elemento remetendo para a historicidade, o contexto no qual a imagem produzia a lição que se queria dar. 

Os artísticos ensaiavam e experimentavam as câmaras, os materiais onde se imprimia a luz que gerava a fotografia, as obturadoras (os buracos que recebiam a luz que trazia a imagem), a luminosidade ambiente, o efeito do movimento na impressão da luz no material, etc.

Mas ambos pensavam primeiro no processo anterior ao momento do 'disparo'. Depois desse momento, havia procedimentos ainda importantes: a câmara da revelação, a passagem da foto ao papel, o tipo de papel, volumetria, grau de absorção, etc. Mas o 'retrato' estava feito. Se não fosse programado antes, depois só se 'retocava'.

Para quem não reduzia a apreciação das fotos à consideração moral e política dos 'conteúdos', o fotógrafo era valorizado pela programação e manipulação prévias do instante do 'disparo'. O resultado do disparo, muitas vezes, era mais importante enquanto revelador da manipulação criativa dos procedimentos prévios. A obra em si, a imagem que se imprimia nas nossas mentes ao vermos a foto, passava para plano secundário. Levava-se em conta o procedimento necessário para produzir uma impressão, por exemplo, de melancolia (por exemplo também, através da manipulação da luminosidade) e valorizava-se, ou se desvalorizava, os recursos criados pelo artista. Isto é, sem dúvida, importante, mas a anulação do valor da imagem por si levava a que, por exemplo ainda, se desvalorizasse uma foto porque resultava do 'disparo' momentâneo, imediato, ingénuo quanto aos procedimentos, instantâneo. Com o tempo é que se foram revalorizando os instantâneos, nas fotos de rua, nos acasos felizes, etc.

O surgimento das câmaras digitais fez explodir o cânone artístico assim criado. Os críticos conformados aos critérios anteriores, iam resistindo passivamente à novidade e desvalorizavam-na. As câmaras digitais avançaram, permitindo-nos realizar fotos com potencial sugestivo cada vez mais intenso. Os artistas que tinham empenhado a vida profissional (artística) na aposta sobre procedimentos prévios e laboratoriais, intuitivamente ou não, sentiam o perigo. E, durante várias décadas, até hoje mesmo, continuamos a ver os 'especialistas' valorizando o resultado caraterístico do contexto anterior, ao mesmo tempo que desvalorizando a novidade. É pecado de lesa-arte não pensarmos no que vem. 

Com as máquinas digitais os procedimentos prévios, em geral, foram simplificados numa primeira fase. Numa segunda fase vão sendo afinados os comandos que levam aos procedimentos prévios, mas ainda exigindo, para certos tipos de fotografia, tripés, manipulação detalhada do obturador - e o momento passa, o motivo da foto altera-se, transforma-se, desaparece, pelo que ela deixa de fazer aquele sentido específico, produção casual e ocasional, a sincronia que a motivara. 

A grande vantagem que trazem as máquinas fotográficas digitais é a da ampliação e potenciação dos procedimentos posteriores. O 'disparo' volta a ser o instante da obra, fundamental, incontornável. o trabalho sobre a imagem passa a ser posterior ao 'disparo'. Claro que temos de perceber - e muito rapidamente - todas as condições da foto: se há contraste ou não, se isso traz vantagem ou não, se devemos mover-nos ou não - e rapidamente - para mudar a perspetiva, a incidência da luz, etc. Mas isso é tudo breve, em frações de segundos, intuitivo, urgente. 

Com o regresso digital à valorização do 'disparo' e a transferência da importância dos procedimentos para a fase posterior a ele, a arte fotográfica sintetiza hoje todo o seu historial e avança um pouco mais. Podendo, ainda assim, continuar a programar previamente alguns tipos de retratos ou 'disparos' - mas agora sabendo que 'a seguir' ainda se consegue transformar em outra mais próxima da origem a imagem capturada. 

(O título da postagem parece típico da passagem do século XIX para o século XX. É de propósito)